Enfim, Caruaru

Sempre quis conhecer essa cidade, onde, desde pequeno, escuto falar que tem uma feira muito doida. Um lugar no Nordeste onde se compra, vende e troca tudo. Caruaru, com sua história e tradição cultural. Então, saí da praia e rumei para o interior de Pernambuco.

Na estrada, em pleno agreste, imagens do ainda distante sertão. Gado esquálido sob o sol e vegetação de caatinga. Impressionante para quem nunca viu.

Estrada para Caruaru (PE)/Foto: Marcelo Migliaccio

As favelas pernambucanas são diferentes das do Sudeste na forma e iguais no conteúdo.

Caruaru (PE)/Foto: Marcelo Migliaccio

Já é difícil viver num agreste quase sertão...

Caruaru (PE)/Foto: Marcelo Migliaccio

O centro de Caruaru é uma loucura! Misture Duque de Caxias com São Gonçalo se você é carioca. Música alta por todo lado, barulho e fumaça à vontade. Há muito tempo, a qualidade de vida nas cidades menores é bem pior que nas metrópoles. Educação pública de baixíssimo nível e prefeitos corruptos contribuem para o caos urbano. Engarrafamento de carros, carrocinhas de churrasco, vendedores de CD pirata e gente, muita gente. O cheiro aqui na entrada da famosa feira... bom, ainda bem que computador ainda não transmite os odores daquele córrego poluidíssimo...

Caruaru (PE)/Foto: Marcelo Migliaccio


Quanto à maior atração da cidade, dei azar, porque fui numa segunda-feira e peguei tudo à meia bomba depois de um fim de semana inteiro funcionando dia e noite. Mas deu para ver que aquilo foi muito melhor quando não havia essa pseudo-organização. Agora, é como a Feira de São Cristóvão, reduto nordestino no Rio, multiplicada por dez.

Feira de Caruaru (PE)/Foto: Marcelo Migliaccio


Mas deu pra ver do que são capazes aquelas 32 mil barracas...

Feira de Caruaru (PE)/Foto: Marcelo Migliaccio

Aqui, tudo dá o maior bode!

Feira de Caruaru (PE)/Foto: Marcelo Migliaccio

Tava começando um forró pé de serra, como eles chamam, mas como eu sou pé de chumbo, achei melhor olhar de longe.

Alto da Serra, Caruaru (PE)/Foto: Marcelo Migliaccio

Conhecer a casa onde viveu o mestre Vitalino, um dos maiores artistas plásticos do Brasil, foi uma honra.

Estátua do mestre Vitalino, Caruaru (PE)/Foto: Marcelo Migliaccio

Aqui dormia um dos gênios da nossa cultura.

Casa do mestre Vitalino, Caruaru (PE)/Foto: Marcelo Migliaccio


Ao cair de uma bela tarde de sol, ouvi a bandinha mais simpática do Nordeste, que poderia se chamar Kid Zabumba e seus Bacamartes...

Caruaru (PE)/Foto: Marcelo Migliaccio

Vale muito a pena conhecer os caminhos do Brasil que não levam à praia.


Caruaru (PE)/Foto: Marcelo Migliaccio

Foi um prazer, Caruaru.

Comentários

  1. Essa definicao Caxias com Sao goncalo diz tudo. Como carioca que trabalha no nordeste conheco um pouco mais da regiao e posso acrescentar que apesar de todas as dificuldades a situacao vem melhorando nos ultimos anos e um dos sintomas disso eh uma diminuicao no numero de trabalhadores que emigram para o Sul. Outro sintoma eh que hoje muitos nao aceitam trabalhar a troco de esmolas e por isso muitos donos de terra e patroas de classe media reclamam do Lula e do bolsa familia. Mas em uma coisa voce deu sorte: A musica. O que hoje chamam de forro eh uma coisa eletronica cheias de duplo sentido, ofensas a mulher e erros de portugues. O forro que voce ouviu e que a gente gosta eh chamado aqui de "coisas da antiga...lamentavel!!!

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    1. É visível a melhora na vida do povo nordestino, mas o subdesenvolvimento era tanto e o abandono foi tão duradouro que vai demorar um pouco para melhorar

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  2. Olhando aqui da ponta de baixo do mapa, dá a impressão que você está falando de outro país. É muita diversidade para um país só... e muita coisa a melhorar também.

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  3. Com todo o respeito ao povo e à terra nordestina, até porque minha família por parte de pai é toda paraibana,prefiro apreciar outras paragens!!!Ahhhh....continue com suas belas fotos....a do pica-pau está espetacular....e siga meus conselhos.....pare de falar sobre política e futebol pois nesses quesitos vc é bola murcha!!

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    1. Bola murcha é quem, além de ser de direita, não tem coragem de assinar seus comentários. Não me espanta você não gostar do Nordeste...

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    2. Dá-lhe, Marcelo... quá!qúá!quá!

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    3. Tu ta eh muito arretado! Ta parecendo um flamenguista! :-))

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  4. “De onde vem o baião”, pergunta Gilberto Gil, respondendo logo no verso seguinte, “vem debaixo do barro do chão”.

    O barro do chão pernambucano moldou o rei do baião e o mestre bonequeiro, ícones da cultura popular nordestina, que com talento e genialidade retrataram através da arte o nordeste pobre, sofrido, castigado pelo sol, os filhos de uma terra árida e inóspita, que vão desafiando a vida como numa embolada repentista.

    Na casa de mestre Vitalino, localizada no bairro de Caruaru chamado Alto do Moura, cobra-se 1 Real pela visitação, que é bem curta, já que o acervo é pequeno e a casa possui apenas 4 cômodos. Na sala, destaque para foto da Presidente Dilma, que esteve por lá em 2011. Nos fundos ainda encontra-se o forno utilizado para cozinhar as peças de barro. Filhos e netos de Vitalino são seus discípulos e continuam o trabalho do mestre, assim como tantos outros que revendem suas peças no comércio de artesanato local.

    Em Alto do Moura é o melhor lugar, em preço e qualidade, para adquirir artesanato de barro. Há vários ateliês e uma variedade incrível de peças. O grande problema é o transporte, pois as peças são frágeis e a embalagem deixa muito a desejar. Assim, os mais cautelosos acabam optando só pelo registro fotográfico. De um lado do porta-retrato, a mulher ao lado da escultura do mestre; do outro, a do companheiro em cima de um cavalo com chapéu de vaqueiro. Lembrança mais que perfeita, já que engloba quatro elementos presentes na obra do artista: o homem, a mulher, o cavalo e o barro...

    Mas se a Caruaru da tradicional feira é tão confusa e barulhenta quanto o calçadão de Alcântara (S. Gonçalo), o que dizer do Polo Comercial de Caruaru, no bairro chamado “Nova Caruaru”? Um taxista de Recife disse que era o “polo do jeans”, tal como fora Vilar dos Teles aqui no Rio, mas acho que o jeans anda em baixa, pois a maior parte das lojas é vestuário feminino, com prevalência de peças estampadas e tecidos sintéticos. Se o comércio é mais “organizado”, a praça de alimentação é tão inibidora de apetite quanto às ruas da velha Caruaru. Outra coisa que o taxista comentou é que o polo também recebe muitos sacoleiros. Depois de algumas voltas pelos corredores de lojas, logo se desvenda o mistério.

    Palco montado com forró pé de serra só se deve encontrar em junho mesmo. Talvez a bandinha e os bacamarteiros sejam atração fixa, ou quem sabe haja apresentação de tocadores de pífano, em referência ao Mestre Vitalino que também tocava o instrumento.

    Certa vez vi uma maravilhosa apresentação da Orquestra de Pífanos de Caruaru aqui no Rio, nos jardins do Palácio do Catete. Entretanto em Caruaru, vi apenas um busto de tocador numa redoma de vidro, na entrada da casa do Mestre Vitalino. Lamentável o silêncio dos pífanos. Aposto que na carrocinha de som da foto não haja a música dos pífanos, já a da cantora do “ex my love”...

    Mas como dizia Vitalino: “o mundo é para todos e todos precisam viver”

    Isso é que é Lição de Mestre.

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  5. "Conhecer a casa onde viveu o mestre Vitalino, um dos maiores artistas plásticos do Brasil, foi uma honra".Certamente.

    O comentário da Adriana está supimpa e , o mais importante nele, é a dunúncia lamentável que ela faz, sobre a descaracterização estúpida e evidente do que há de melhor na verdadeira cultura brasileira: "Lamentável o silêncio dos pífanos. Aposto que na carrocinha de som da foto não haja a música dos pífanos, já a da cantora do “ex my love”"...Acrescentaria: da ridícula "cantora".

    Quanto à sua resposta "bola murcha", considero-a oportuna, assertiva, enfim, bola cheíssima e dentro.
    Abraço
    Marcos Lúcio

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  6. Pois é precisamos tomar conta do nosso país.
    Nós americanos do sul temos uma natureza exuberante. E isso vai fazer a diferença daqui à alguns anos.
    É complicado largar o País na mão de administrador/especulador.
    Sergio.

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  7. Fui tripulante de uma empresa aerea: voei para MUITAS cidades que alguns nunca ouviram o nome ou nao sabem onde ficam. Fui a Imperatriz, Cruzeiro do Sul, Ilheus, Paulo Afonso,Petrolina, Parnaiba, e tantas outras alem de todas as capitais dos estados. Tive o prazer de ficar baseado 3 meses em Manaus. Tive o privilegio de, em ferias, ir a tantos e tantos locais que hoje, passado mais de 30 anos, seguem vivos na memoria.
    Lamentavelmente o que continua faltando (se bem que esta melhor do que era a 3 decadas) eh uma infraestrutura para o turismo. Basicamente esta entregue a empresarios que, obviamente, aplicam onde a possibilidade de retorno seja grande.
    Isso causa a concentracao de turistas em alguns locais e o desaparecimento em outros tao lindos e tao desconhecidos.
    Quem sabe, um dia?

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    1. Gostaria muito de conhecer Petrolina, 780 quilômetros de Recife, aquilo é que é sertão. Fale um pouco de lá, por favor

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    2. Isso foi no inicio dos anos 70. Voava para la de Avro,um turbo elice de 40 lugares que voava baixo (entre 7000/12000 pes contra 36000 do aviao em que voce retornou ao Rio) cada voo era um visual!
      O voo que passava por Petrolina era semanal (Salvador, Paulo Afonso, Petrolina, Floriano, Terezina, Parnaiba, Fortaleza). Quando o aviao pousava, a cidade estava naquilo que chamavam de aeroporto: uma construcao pequena, uma pista muito pequena e uma area de estacionamento minima. Era muita gente para ver o aviao!
      Criancas vinham ate o aviao e, sempre que tinha algumas sobrando, eu distribuia "caixas de lanche" para a alegria de todos. Era uma festa! Gente simples e carinhosa.
      Naquela epoca, Petrolina "vivia" gracas a Juazeiro (Nao faco ideia de como as coisas estao por la, agora). Era um "lugarzinho" perdido a beira do velho Chico. Nunca fiquei la. Apenas pousava e decolava. A cidade era pequena. Decolando, em menos de 5 minutos, so se avistava o serao...
      A diferenca entre vida e morte tem um nome: O Velho Chico!

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    3. É perto do Rio? Então não era muito seco?

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    4. Na margem direita do rio encontra-se Juazeiro, BA (nao confunda com Juazeiro do Norte, CE). Na outra margem esta Petrolina, PE. A unificacao e o crescimento ocorreu apos a construcao da ponte.
      A cidade nao eh "no meio do nada" mas como escrevi, se voce vai rumo NE, em menos de 30 minutos comeca a adentrar numa regiao bem diferente e seca. Nao sei se hoje, passado tanto tempo, algo melhorou mas assim era. Quer ir para o interior? Va a Floriano, no Piaui, fronteira com o Maranhao.

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  8. Boa tarde, Marcelo

    Eu aqui procurando um blog que falasse de jornalismo e encontro alguns arquivos no seu, hoje morando em Diamantina e trabalhando numa tv, vive e cresci em Caruaru minha terra de adoção já que eu sou de Garanhuns e sai de lá com um ano para ser adotada por uma mistura de odores, cheiros, barulhos e silêncios, enfim que de tudo que há no mundo tem na feira de Caruaru como já dizia o rei do baião Luiz Gonzaga, obrigado por ter matado um pouco da minha saudade com essas fotos.

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  9. Boa tarde, Marcelo

    Procurando por alguns artigos sobre jornalismos, cheguei ao seu blog e me deparei com essa linda matéria sobre Caruaru a terra que me acolheu como filha, hoje vivendo em Diamantina, Minas Gerais eu morro de Saudades dos odores, cheiros, da feira, das festa, quadrilhas matutas e tantas outras coisas que tem lá. Berço de tantos artista como Onildo Alemeida autor da musica feira de Caruaru, Mestre Vitalino e tantos outros levo em meu coração as saudades da cidade que me viu crescer e da qual matei um pouco olhando essas fotos que estão ai em sua matéria! obrigada...

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