Desaparecido

Procura-se uma criança
Quem a procura é um velho

Não foi a criança que se perdeu
Foi o velho que a deixou

Na época ainda era moço
Achava que podia tudo

E que a criança tomava seu tempo
Que, sem ela, ele seria mais forte

Queria deixar pra trás suas fraquezas
e enfrentar o mundo sem medo

Achava-se forte, achava-se muito forte
Tinha todas as armas para nunca mais chorar

"Choro é coisa de criança"

Acreditou que podia viver sem tristeza
E que alegria se comprava pronta

Mas o tempo passou
Suas armas falharam

Todas elas

Hoje o velho chora sozinho
Pede socorro, sabe quem poderia salvá-lo

Mas não consegue mais achar a criança perdida dentro de si



Comentários

  1. Por isso é que o amor é fundamental ou... o cheiro de flor de laranjeira.
    Um abraço comovido da sua sempre admiradora,

    Wanda Rodrigues

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  2. Esse belo poema me fez lembrar um dos 1º livros que li, "Os belos contos da eterna infância".
    Hoje o dia me convida a ler um bom livro deitado na rede que coloquei na sala.
    Mais uma vez, deixarei a TV de lado.

    Cury

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    1. Belo poema. Considero a poesia como necessidade da alma , pelo menos da que precisa, conscientemente, de transcendência. Refiro-me aos verdadeiros poetas, aos que nasceram com este dom, os escolhidos das Musas, afinal, segundo Platão, o grande poeta é porta-voz de um Deus.

      Ato contínuo, à guisa de compatilhar e , na minha desimportante conceituação, um Mário Quintana e um Baudelaire, nesta ordem, dão conta demais da conta, né???

      ”Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam voo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto; alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti...”

      "É preciso estar sempre embriagado. Eis aí tudo: é a única questão. Para não sentirdes o horrível fardo do Tempo que rompe os vossos ombros e vos inclina para o chão, é preciso embriagar-vos sem trégua.
      Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa maneira. Mas embriagai-vos.
      E se, alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre a grama verde de um precipício, na solidão morna do vosso quarto, vós acordardes, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que foge, a tudo que geme, a tudo que anda, a tudo que canta, a tudo que fala, perguntai que horas são; e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio, responder-vos-ão: 'É hora de embriagar-vos! Para não serdes os escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos: embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa maneira'."
      Marcos Lúcio

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  3. Como foi dito acima, belo poema. É desses que gosto de reler. Também gostaria de permissão para salvar e repassa-lo.
    Bom domingo.
    Sergio.

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  4. Lindo poema, porém muito triste. Y.R.

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    1. Tristeza também faz parte da vida...

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    2. Aliás..."A felicidade perderia seu significado se la não fosse equilibrada pela tristeza".
      Carl Jung

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  5. Alguém já citou o Quintana, mas foi exatamente nele que pensei quando li o poema.

    Pensei também que tristeza e solidão são ponto e vírgula para os grandes poetas.

    E que o velho vai encontrar a criança assim que colocar seus óculos de raios x.

    Poema (Mario Quintana)

    Oh! aquele menininho que dizia
    "Fessora, eu posso ir lá fora?"
    Mas apenas ficava um momento
    Bebendo o vento azul...
    Agora não precisa pedir licença a ninguém
    Mesmo porque não existe paisagem lá fora
    Somente cimento
    O vento não mais me fareja a face como a de um cão amigo
    Mas o azul irreversível persiste em meus olhos.

    ARM




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  6. Quando morremos a criança que nos existe, a vida torna-se sombria. Sem GRAÇA.

    O poema é muito bonito. Naturalmente triste.

    ANTONIO CARLOS

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  7. Simplesmente, lindo

    Bj, denise coutinho

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  8. lembrei dessa música

    Bola de Meia, Bola de Gude
    Milton Nascimento
    Há um menino, há um moleque
    Orando sempre no meu coração
    Toda vez que o adulto balança
    Ele vem pra me dar a mão
    Há um passado no meu presente
    O sol bem quente lá no meu quintal
    Toda vez que a bruxa me assombra
    O menino me dá a mão
    Ele fala de coisas bonitas que
    Eu acredito que não deixarão de existir
    Amizade, palavra, respeito
    Caráter, bondade, alegria e amor
    Pois não posso, não devo
    Não quero…

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  9. Bola de Meia, Bola de Gude
    Milton Nascimento
    Há um menino, há um moleque
    Orando sempre no meu coração
    Toda vez que o adulto balança
    Ele vem pra me dar a mão
    Há um passado no meu presente
    O sol bem quente lá no meu quintal
    Toda vez que a bruxa me assombra
    O menino me dá a mão
    Ele fala de coisas bonitas que
    Eu acredito que não deixarão de existir
    Amizade, palavra, respeito
    Caráter, bondade, alegria e amor
    Pois não posso, não devo
    Não quero viver como toda essa gente insiste em viver
    Não posso aceitar sossegado
    Qualquer sacanagem ser coisa normal
    Bola de meia, bola de gude
    O solidário não quer solidão
    Toda vez que a tristeza me
    Alcança o menino me dá a mão
    Compositores: Fernando Brant / Milton Nascimento

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