Todo ídolo, no fundo, despreza os fãs

Sheila Melo, do É o Tchan, é tietada ao sair do Sambódromo do Rio. Foto de Marcelo Migliaccio
No Sambódromo, frisson em torno de Sheila Melo, do É o Tchan!, lembra?


Acho que não deve haver desprezo maior do que aquele que um astro tem por seus fãs.

Isso mesmo, falo daquele tipo de gente que passa quatro dias e quatro noites na porta do estádio para assistir de perto a um show musical. O fã de carteirinha é simplesmente patético. Tudo bem, se a pessoa não tem mais de cinco anos de idade, a gente até perdoa, mas passou disso, acho que o caso deve ser entregue à psiquiatria.

Cheguei a essa conclusão hoje mesmo, vendo aquela horda de adolescente à espera do ídolo teen Justin Bieber. A imagem das barracas dos fãs montadas na bilheteria contrastava com a cara de tédio do artista em suas aparições públicas. Ele parecia enfastiado.

Como é chato ser venerado...

Eu também já tive ídolos, mas todos me decepcionaram em um certo momento. Era o craque da bola que se revelava um ser humano mesquinho ou o músico que, de repente, fazia um discurso político conservador ou alienado.

Uma coisa é a obra artística de alguém, outra é esse alguém-pessoa-física, repleto de defeitos e contradições como eu e você. Aprendi isso ao contar ao ex-jogador Paulo Cezar Caju que, quando pequeno, imitava seu estilo nas peladas. Minha declaração de amor entrou por um ouvido e saiu pelo outro.

_ Beleza... _ limitou-se a responder o craque já então aposentado, sem nem pelo menos levantar as sobrancelhas.


Bem-feito pra mim, só eu mesmo pra tietar o Paulo Cezar Caju...

No fundo, acho que o artista despreza seus fãs porque se conhece muito bem e sabe que não merece qualquer idolatria. Sabe-se humano, apesar de seu dom, de seu talento específico, sofre das mesmas mazelas que nós. Deve pensar: esses pobres coitados amontoados aí fora, endeusando alguém como eu...

Outra coisa que contribui para essa aura em torno do artista é a sensação absolutamente falsa de que sua criação contribui para melhorar o mundo. Coisa nenhuma. Já assisti a shows emocionantes em que a multidão cantava em uníssono os valores mais nobres. No entanto, na hora da saída, todos aqueles que minutos antes estavam unidos por um mundo melhor saíram avançando sinais para chegar logo em casa.

Dia desses, lamentei não ter manifestado minha admiração pelo trabalho do Zé Ramalho quando o vi num aeroporto, mas acho que foi até melhor. Talvez ele achasse a tietagem um saco. E eu estaria sendo um tremendo egocentrico, achando que ele precisava de mais um elogio. Todo fã é um egoísta, pois se acha importante para seu ídolo. Às vezes, se vê no direito inclusive de invadir-lhe a intimidade. Mas, na verdade, o fã só é importante quando tira do bolso o dinheiro do ingresso ou para comprar o CD.

Lembram-se da devoção de Xuxa pelos baixinhos nos anos 80? Hoje, virou apenas comércio nas lojas de brinquedo.

Aliás, acho que só há uma categoria que o artista despreza ainda mais que seus próprios fãs: o jornalista que cobre cultura. Vejam uma prova disso na entrevista que Justin Bieber deu a um repórter do Globo. Só faltou o incensado pirralho chamar o entrevistador de burro...

Comentários

  1. Li no 'caralivro' de um amigo: "Não adianta fazer Yoga e não falar com o porteiro". O ídolo, astro, foi alçado à condição de, por pessoas que lucram com isso, transformam o ser humano em um produto, ou na imagem de um produto, atrelam sua cara, voz, alma, a produtos. Vemos até hoje camisetas com James Dean, Elvis, entre outros grandes ídolos de gerações passadas, que eram pessoas comuns, que não suportaram ser ídolos, assim como Amy, Curt, entre outros.
    A propósito, Curt, afirmou (em raro momento de sobriedade) que tinha se tornado aquilo que ele mais detestava...
    Menudos saem do armário, pseudo-artistas evidenciam em sua decadência o que Régis já falou, "por vezes, é só um babaca".
    A discussão inflamada sobre a música baiana vaiada por roqueiros, em dia de Kate Perry e Rihana? Roqueiros? Ela foi vaiada pelo público consumidor do que ela é, mas não estavam tão interessados assim na calcinha dela...
    Eu gostaria de saber como foi o acompanhamento do ECAD sobre o evento. Aliás, eu gostaria de saber mais sobre a atuação do ECAD no eixo Rio x SP, só por curiosidade...
    Off-topic, tu já procurou no vocêtubo crisis +broker +goldman sachs? Entrevista interessante, rapaz...

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  2. Pois eh Marcelo. E se por um acaso voce tivesse se encontrado com Steve Jobs e dito para ele que estava diante do maior genio da informatica ou de um visionario que conseguia transportar nossos desejos para maquinas simples e funcionais? Mesmo que ele nao desse a minima acredito que teria feito muito bem a voce, por se tratar de uma pessoa unica...ou nao.

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  3. "...melhorar o mundo. Coisa nenhuma. Já assisti a shows emocionantes em que a multidão cantava em uníssono os valores mais nobres. No entanto, na hora da saída..."

    Também penso nisso. É algo do tipo 'na prática a teoria é outra'. É estranho.

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  4. É, meus amigos, a banana comeu o macaco... abraços

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  5. Pertenco a uma minoria que nunca perderia tempo com essas besteiras. Se a pessoa virou produto, eu consumo o produto e o palhaco ali estampado...... esqueca que eu existo porque eu sempre soube que eles amam minha carteira.

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  6. pq um cara nao pode ser conservador?

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