Eu quis, quis muito
Vou fazer uma revelação. Sei que a internet não é lugar para confidências mas é algo que não cabe mais dentro de mim. Tenho dois traumas de infância jamais superados. Não consigo aferir o tamanho das consequências dessas frustrações, embora sinta que elas estão aí e se manifestam nas pequenas decisões que tomo e nos grandes dilemas que me atormentam.
Vou falar.
Quando pequeno, eu queria ter, e nunca tive, um Pega Pega Trol e uma bicicleta Tigrão. Tive outros brinquedos, não fui uma criança pobre, mas quis muito esses dois e não ganhei.
O Pega Pega Trol era um mini-autorama onde dois carrinhos circulavam por uma pequena pista. Quem teve infância nos anos 70 deve lembrar do brinquedo. Ei-lo:
Contribuiu em muito para o meu extremo querer a propaganda na TV, em que dois pirrralhos se esbaldavam diante da engenhoca colorida. A música era vibrante, dando ao brinquedo uma aparência e uma grandiosidade que certamente não tinha. No entanto eu sonhava ver aqueles carrinhos atropelando meus bonecos do Forte Apache.
Tive até um autorama, tão grande que dava preguiça só de armar (quem tinha um daqueles precisava ter um quarto só para ele ficar armado permanentemente). Desarmar então era torturante. Mas não tive o Pega Pega. Minha mãe argumentou que eu enjoaria logo daquilo, o que provavelmente era verdade mas toda vez que lembro daquele anúncio me vem o fantasma do gozo não vivido.
Também quis muito, muito, ter uma Tigrão. Era uma bicicleta moderna para a época, com um design avançado, que subvertia os padrões. Guidon comprido, banco de moto, roda da frente menor que a de trás. Veja!
Tive três bicicletas durante a infância e a adolescência. Não ao mesmo tempo, claro. A primeira foi uma Monark Olé 70, modelo lançado quando o Brasil conquistou o tricampeonato mundial de futebol no México. Nunca me esqueço de contemplá-la. novinha e cheirosa, sentado no chão da sala e ouvindo meus pais discutirem. Tive também, mais tarde, outra Monark, modelo Jet Black, que eu achava meio espalhafatosa de tão moderninha, mas _ fazer o quê? _ ganhei de aniversário, ou de Natal, sem chance de escolha na loja. Foi surpresa. Fazer uma surpresa para alguém é sempre uma operação de alto risco. A terceira bicicleta, eu já adolescente, foi uma Caloi 10, quando esse modelo similar às de corrida, virou febre, lá pelos idos de 1978.
Mas eu quis mesmo foi uma Tigrão, como as que tinham meus vizinhos. Entretanto, minha mãe, de novo ela, esse super ego ambulante que nos protege, tutela, patrulha e frustra na primeira fase da vida, disse que eu logo ficaria maior, e a Tigrão se tornaria pequena demais. Um argumento prático e inteligente economicamente falando, mas que me deixou deveras desapontado.
E o mais incrível foi que a minha prima acabou casando, anos depois, com o garoto que fazia a propaganda da Tigrão na TV e nas revistas. Quando o conheci pude dizer ao felizardo como o invejei em cima daquela bicicleta...
Peço desculpas se meus frívolos traumas decepcionaram que esperava algo mais trágico, bizarro, estilo Nelson Rodrigues...
Mas só quem não conheceu e quis uma Tigrão e um Pega Pega Trol pode desedenhar dessa chaga.
Vou falar.
Quando pequeno, eu queria ter, e nunca tive, um Pega Pega Trol e uma bicicleta Tigrão. Tive outros brinquedos, não fui uma criança pobre, mas quis muito esses dois e não ganhei.
O Pega Pega Trol era um mini-autorama onde dois carrinhos circulavam por uma pequena pista. Quem teve infância nos anos 70 deve lembrar do brinquedo. Ei-lo:
Olha a empolgação da molecada! |
Contribuiu em muito para o meu extremo querer a propaganda na TV, em que dois pirrralhos se esbaldavam diante da engenhoca colorida. A música era vibrante, dando ao brinquedo uma aparência e uma grandiosidade que certamente não tinha. No entanto eu sonhava ver aqueles carrinhos atropelando meus bonecos do Forte Apache.
Tive até um autorama, tão grande que dava preguiça só de armar (quem tinha um daqueles precisava ter um quarto só para ele ficar armado permanentemente). Desarmar então era torturante. Mas não tive o Pega Pega. Minha mãe argumentou que eu enjoaria logo daquilo, o que provavelmente era verdade mas toda vez que lembro daquele anúncio me vem o fantasma do gozo não vivido.
Também quis muito, muito, ter uma Tigrão. Era uma bicicleta moderna para a época, com um design avançado, que subvertia os padrões. Guidon comprido, banco de moto, roda da frente menor que a de trás. Veja!
Parecia aquelas motos do clássico filme 'Sem Destino' ('Easy Rider') |
Tive três bicicletas durante a infância e a adolescência. Não ao mesmo tempo, claro. A primeira foi uma Monark Olé 70, modelo lançado quando o Brasil conquistou o tricampeonato mundial de futebol no México. Nunca me esqueço de contemplá-la. novinha e cheirosa, sentado no chão da sala e ouvindo meus pais discutirem. Tive também, mais tarde, outra Monark, modelo Jet Black, que eu achava meio espalhafatosa de tão moderninha, mas _ fazer o quê? _ ganhei de aniversário, ou de Natal, sem chance de escolha na loja. Foi surpresa. Fazer uma surpresa para alguém é sempre uma operação de alto risco. A terceira bicicleta, eu já adolescente, foi uma Caloi 10, quando esse modelo similar às de corrida, virou febre, lá pelos idos de 1978.
Mas eu quis mesmo foi uma Tigrão, como as que tinham meus vizinhos. Entretanto, minha mãe, de novo ela, esse super ego ambulante que nos protege, tutela, patrulha e frustra na primeira fase da vida, disse que eu logo ficaria maior, e a Tigrão se tornaria pequena demais. Um argumento prático e inteligente economicamente falando, mas que me deixou deveras desapontado.
Até o craque Zico pedalou uma Tigrão Eu não.
E o mais incrível foi que a minha prima acabou casando, anos depois, com o garoto que fazia a propaganda da Tigrão na TV e nas revistas. Quando o conheci pude dizer ao felizardo como o invejei em cima daquela bicicleta...
Peço desculpas se meus frívolos traumas decepcionaram que esperava algo mais trágico, bizarro, estilo Nelson Rodrigues...
Mas só quem não conheceu e quis uma Tigrão e um Pega Pega Trol pode desedenhar dessa chaga.
Eu também quis (e não tive) uma Tigrão! Mas depois de meses colocando nos bolsos da minha mãe um bilhetinho recortado nas revistinhas da Monica e do Cebolina, escrito "Não se esqueça da minha Caloi" (olha a propaganda aí, desvirtuando tudo!), minha mãezinha querida me comprou uma Caloi azul metálico, linda!
ResponderExcluirMauro Pires de Amorim.
ResponderExcluirEu nascí em 1965 e me lembro perfeitamente desses brinquedos e como você, também nascí numa família de classe média.
Tive um Pega-Pega Trol e adorava brincar com ele, pois ficava fascinado com aqueles carrinhos e com o cenário da mini-cidade. Acredito que esse brinquedo provocava em mim naquela idade, uma visão lúdica e identificatória com a vida na cidade.
Também sempre quis ter uma bicicleta Tigrão, justamente por seu desenho similar à uma moto "chopper". No entanto, minha mãe não aprovava bicicletas, pois como fui criado em Copacabana, numa rua que ficava algumas quadras da praia, sendo o Calçadão o único local aconselhável para uma criança andar de bicicleta, minha mãe tinha medo que eu me aventurasse de bicicleta mais perto de casa e portanto nas ruas com intenso tráfego de carros.
Então eu tinha que me contentar com brinquedos mais caseiros.
Gostei dessa sua postagem pois trouxe-me lembranças que usualmente não tenho e acho importante temos encontros com a criança que um dia fomos para não nos tornarmos adultos sem sonhos.
Felicidades e boas energias.
Valeu, Mauro, somos da mesma geração. Abraço
ResponderExcluirTive um Velotrol, triciclo infantil. No pátio [não falávamos play(ground)] a onda era conseguir andar em duas rodas, inclinando o brinquedo. Noutro momento, num natal lindo e chuvoso como sempre, ganhei um Autoban. Eu nem piscava olhando pra pista. E minha mãe fazendo das tripas coração pra me convencer a comer alguma coisa.
ResponderExcluirMauro, sempre tive curiosidade de saber como se controlavam os carrinhos do Pega Pega. Me explique, por favor?
ResponderExcluirDrum, lembro vagamente desse nome, Autoban, o que era mesmo:
ResponderExcluirBRAVO MARCELO....!!!!...MAIS UM ÓTIMO TEXTO...!!!...
ResponderExcluirE EU QUERIA TER NA INFÂNCIA A ILHA DOS THUNDERBIRDS...EEHEHEH...!!!
Discomania avec Messiê Limá...!!!
Boa lembrança, Marcos, eu também quis a ilha dos Thunderbirds. Lembro que no anúncio da TV uma nave saía voando de dentro dela. Êta, propaganda enganosa...
ResponderExcluirAchei que seu trauma de infância era torcer pro Fluminense.
ResponderExcluirNão, Julio, torcer para o Fluminense é meu trauma de adulto... abração
ResponderExcluirMigliaccio, o Autoban era uma pista em que os carrinhos subiam tracionados por uma esteira e desciam por gravidade. No site abaixo indicado, a foto. Acho que o autor se não acertou em cheio passou perto: deve ter sido entre 76 e 78.
ResponderExcluirhttp://www.memorychips.com.br/Lembra31.htm
Vou olhar o link, mas você lembra do Roda a jato? Tinha o Looping e a Grande Reta na mesma série, para brincar com carrinhos Mathbox...
ResponderExcluirDrum, vi o AutoBan, agora me situei. A Glasslite lançou brinquedos legais nos anos 70. Abraço
ResponderExcluirMarcelo,na minha família eu sou a caçula,e como tal sempre tive minhas regalias.Tanto que quando batí o pé por uma bicicleta,deixei bem claro para o meu pai,que tinha que ser uma Tigrão,e ele não teve outra saída,se não ceder aos meus caprichos... Ah,eu lí todos os comentários,inclusive o do Julio. rs Boa noite.
ResponderExcluirMonica.
Quando eu tinha 12 anos meu pai me prometeu uma bicicleta. Nessa época (é isso mesmo época) as bicicletas eram importadas. Meu pai disse que chegaria a qualquer momento. Eu passa o dia rezando para Deus mandar logo minha bike. Que nada!!! Deus tinha coisas muito mais importantes para resolver. Muitos longos dias depois chegou a minha primeira bicicleta. Era linda, preta e tinha redinha na roda trazeira, para proteger a saia das mocinhas. Gente, foi o dia mais feliz de minha vida. Tanta felicidade assim, só senti quando meu filho nasceu. Não emprestava para ninguem, nem mesmo para minha irmâ, oito anos mais que eu. Um dia a peguei em flagrante, pedalando minha bike e levando uma criança na carona.Figuei com tanta raiva que soltei a frase (copiada de uma colega que não tinha educação): "Minha biciclata não é poleiro para estar cheia de galinha!" Resultado, fiquei uma semana de castigo, sem poder pedalar minha amada Bicicleta "Rolls Francesa" Yves Rangel.
ResponderExcluirMauro Pires de Amorim.
ResponderExcluirOs carrinhos de Pega-Pega Trol, pelo que me lembro eram movidos à pilha e tinham uma guia similar as de autoroma que corriam num sulco na pista. Fora isso, fora da pista que se dividia em duas metades encaixadas ao serem montadas, haviam duas caixinhas, uma para cada brincador, onde haviam dois botões em cada caixinha dessa, sendo que cada um dos botões eram relativos à uma metade da pista, pois bem, ao serem acionados esses botões, acionavam desvios na pista, tais como desvios ferroviários, que permitiam que os carrinhos mudassem de pista e desviassem ou fugissem um do outro.
Felicidades e boas energias.
Valeu, Mauro, matou uma curiosidade antiga... abraço
ResponderExcluirEu tive um Pega Pega Troll mas não tive a bicicleta Tigrão......... mas eu gostava mesmo era de Forte Apache Gulliver. Bons tempos!
ResponderExcluirBrinquei muito de forte apache, mas não Gulliver, era de outra marca...
ExcluirFoi um dos poucos presente que meu pai me deu, porém inesquecível, pois ganhei sem pedir.
ResponderExcluirAndei muito pelas ruas da Penha no RJ. Lá pelos anos 70. Morava na Conde de Agrolongo, perto da Av, Lobo Júnior-onde não podia andar, claro, por causa do transito intenso. Meu irmão, já menor ganhou um triciclo todo de plástico, grande amarelo, com roda dianteira grande e traseiras menores, ambas pretas, tala larga, bom para derrapagens, até eu andava de tão grande que era esse triciclo, não lembro o nome. Tempos bons.
Seu irmão deve ter ganho um Velotroll... que eu também quis, quis muito... abraço
ExcluirMeu sonho de consumo na infância foi uma espingarda de ar comprimido que acho que se chamava Super Tiro. Mas me dou por satisfeito por ter superado essa fase bolsonarista rss
ResponderExcluirEu tive uma. Matei uma única rolinha na vida e nunca mais me recuperei do remorso.
ExcluirAcho que a propaganda da bicicleta Tigrão é que devia ser mais apelativa, ou na época não tínhamos muitas outras opções, eu aprendi a andar de bicicleta praticamente com a Tigrão, foi a segunda bicicleta que andei quando criança, era da minha prima e o coxim da bike era o diferencial mesmo, a gente se sentia mais empoderada kkkkkkk...também tentei convencer meus pais a comprar pra mim, só fui ganhar uma bicicleta uns dois anos mais tarde já com meus 10 anos,mas meus pais me deram uma Caloi dobrável, tinha Guidom alto mas o coxim não trazia o glamour da Tigrão, vejo que essa bike foi desejo de consumo de muita criança.
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