A última lagosta de Copacabana

Lá estava ela, a raridade em exposição


Colocada sobre um grande badejo (linguado, me corrige o Fred), a lagosta pouco aparecia na bancada de azulejos. Ao seu lado, um cação-martelo chamava mais atenção pela forma e também por não ser muito comum naquele mercado de peixes.

Mas era uma lagosta, em carne e casca! Já morta, não se mexia. Quem costuma frequentar a colônia de pescadores do Posto 6, em Copacabana, sabe que não é comum ver uma lagosta em exposição. Ela está em todos os restaurantes do bairro, cara como sempre, mas vem de longe, do Nordeste até, onde também já está ameaçada de extinção.

_ Vinte e cinco reais _ diz o velho pescador, que nem se lembra da última vez em que trouxe do mar o nobre crustáceo.

Diante da pausa do observador, o preço logo cai.

_ Me dá vinte, vai!

O pior vem agora, quando o pescador vira a lagosta de barriga para cima e mostra seu último trunfo:

_ Tá ovada, ó!

Sim, muitas ovas de lagosta que poderiam dar início a um repovoamento dos mares cariocas.

_ Isso aqui com uísque é uma delícia. É só ferver e temperar _ ensina o lobo do mar.

Eu penso: vinte reais pela última lagosta de Copacabana, cheia de ovas.

_ Há uns vinte anos tinha muito, mas a pesca de arrastão e o cerco de rede acaba com tudo, pega até as ovas _ diz um outro pescador, mais novo, vendo que estou mais interessado na preservação do que na degustação.

O velho logo nos traz de volta à realidade:

_ Fazer o quê? É a lei da sobrevivência.

Contra fatos não há argumentos.

E eu saí me perguntando onde estavam os fiscais do Ibama nestes últimos vinte anos?

Comentários

  1. TOMANDO CERVIJINHA NA ZONA SUL. É MUITO DIFÍCIL ENCONTRAR UM FUNCIONÁRIO PÚBLICO QUE TRABALHA COM EXCELÊNCIA.

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  2. Marcelo,nós sabemos que os fiscais do Ibama existem,agora se eles trabalham,aí é outra história.Pescas desenfreadas,desmatamento na Amazônia,jacaré morto no Pantanal,e por aí vai,mas já que o pescador falou,que é a lei da sobrevivência,fazer o que? O Planeta que se exploda. Abs.
    Monica.

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  3. Caro Marcelo,

    É difícil saber o que é mais raro: uma lagosta em Copacabana ou um fiscal do Ibama (em qualquer lugar). Os caras já entraram na categoria de lenda urbana: loira fantasma, cabeça de bacalhau, anão criança, chupa-cabra... Se alguém conseguir uma foto (clara, nítida, não um vulto suspeito) de um fiscal do Ibama em ação pode mandar pro meu blog aí embaixo que eu publico com exclusividade.

    Bração de sempre.

    www.aovinagrete.com.br

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  4. Opa Marcelo. O IBAMA existe mas não é efetivamente atuante. Sou pescador esportivo (denomina-se pescador esportivo os que praticam a pesca com responsabilidade, manuseando corretamente o peixe e liberando a maioria absoluta dos pescados) há mais de 30 anos, e nunca fui abordado pelo IBAMA solicitando minha licença de pesca. Em países muito menores e com menos estrutura (sic) que o Brasil a pesca esportiva gera muuuuuito dinheiro e empregos. Nos EUA não vou nem comentar. Com a pesca profissional mal regulamentada e cheia de problemas como atravessadores nos grandes mercados, problemas de infraestrutura e tantas outras mazelas realmente fica difícil culpar o pescador profissional de pequeno porte ou artesanal por estes desvios de conduta, quando animais que deveriam ser abundantes em nosso litoral já não o são por conta da sobrepesca.
    Falta seriedade no trato com o assunto e eficiência dos órgãos fiscalizadores.
    É esperar que um dia - rezemos que esse dia chegue a tempo de salvar algumas espécies, pelo menos - a coisa funcione.

    Em tempo: não é uma lagosta, mas uma cavaca, da família da lagosta mas com formato diferenciado da cabeça. E o peixe que está embaixo da cavaca me parece um linguado, não um badejo; principalmente pelo perfil achatado e a parte branca embaixo.
    Outro problema de muitos comerciantes aqui no RJ... Vendem um peixe dizendo que é outro mais caro.
    Abs.

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  5. Já viu que eu entendo de peixes, né Fred (rs)... Mas, mesmo sendo uma cavaca, nunca vi uma delas à venda ali no Posto 6 em anos. Abração

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  6. (...)Czech doctors, patients and scientists Tuesday launched a petition for the legal use of cannabis in treating sclerosis multiplex, the Parkinson disease, cancer and the AIDS in the Czech Republic whose legislation bans such practice.(...)"

    http://www.cannabisculture.com/v2/node/28093

    Free Marc

    Liberdade Sativa Lover

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  7. Oi Marcelo,
    De qualquer jeito, cavaca ou lagosta, acho triste pescar um peixe "grávido".
    Quanto ao Ibama, como será que a gente faz para colocar este assunto na pauta?
    Você já reparou que quem faz a pauta do cotidiano de muita gente é "aquela emissora".
    Como fazer?

    Em tempo:
    Fiquei muito tempo sem acessar sua coluna "Rio Acima", por um monte de razões. Eu não consigo encontrá-la na capa do Jornal do Brasil. Não tem mais? Onde está?

    Abraços,
    Senti falta.

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  8. Caro anônimo, não estou mais no JB. Lá, só ficaram os textos e fotos antigos. Meu blog agora é só aqui. Abraço

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  9. Mais raro do que a lagosta na colônia de pescadores do Posto 6, em Copacabana é a visita eficaz de um fiscal do Ibama. Encontrá-los é até possível, mas fiscalizar e agir, lá isto não é raro não, está EXTINTA esta possibilidade.

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