Outono, ou nada

Mudou. Reparou?

O calorão já não é tão avassalador apesar das explosões solares batendo às portas da atmosfera terrestre.

O vento que ainda é brisa se faz sentir, sorrateiramente, anunciando a chegada da mais bonita das estações do ano _ o outono. Enquanto um transatlântico retardatário emoldura o horizonte na sua partida discreta, é possível ver as nuanças do mar, seus brilhos que aparecem e somem, como está sumindo mais um delicioso e abrasador verão carioca.

Na Avenida Atlântica, duas amendoeiras apressadas despiram-se das folhas antes do tempo. Deviam estar indóceis para acabar com as sombras e escancarar-se ao sol, que agora se mostra amigo e não o inimigo que nos derreteu impiedosamente de dezembro a fevereiro.

Bem-vindo, outono, alegria dos fotógrafos e cinegrafistas. Estação ideal para iniciar as filmagens de um documentário, ou para passear de bicicleta à beira-mar. A claridade não nos cega mais, podemos ver as belas paisagens e as belas na paisagem.

O outono é discreto, equilibrado, humilde em sua grandeza. 

Não é a estrela da companhia _ o verão _ época em que todos tiram férias para curtir o calorento campeão de popularidade. 

Não é a primavera, virgem tímida, florida, enfeitada, mas sem sal. 

E nem o inverno, vilão cinzento, carrasco naquelas segundas-feiras chuvosas, dignas da filme de Drácula, em que é difícil encontrar ânimo para sair de casa.

Eu amo o outono, e você?

Árvore no outono, Foto de Marcelo Migliaccio


Comentários

  1. Ouso discordar do Marcelo, acho que não há estação mais bonita que a primavera.
    É o tempo das flores, é o tempo em que a natureza se enche de verde, de flores, de cantos dos pássaros, dos jardins floridos.
    Nela os poetas se inspiraram para fazer lindas poesias
    Até o nome da bela estação foi usado na famosa Primavera Árabe, onde até agora já cairam três déspotas derrubados pelo povo.
    Cury

    ResponderExcluir
  2. Eu também! E sabe, seus textos estão cada vez mais poéticos e próximos do leitor, cada vez mais te colocando ao lado dos melhores cronistas brasileiros.

    ResponderExcluir
  3. Lembrança de um menino, essencialmente outono:

    " Oh, aquele menininho que dizia
    Fessora, eu posso ir lá fora?
    Mas apenas ficava um momento
    Bebendo o vento azul...
    Agora não preciso pedir licença a ninguém
    Mesmo porque não existe paisagem lá fora
    Somente cimento
    O vento não mais me fareja a face como um cão amigo...
    Mas o azul irreversível persiste em meus olhos"

    Mario Quintana

    Tempo de outonear.

    ResponderExcluir
  4. Mauro Pires de Amorim.
    A natureza continua resistindo às alterações climáticas provocadas no planeta por nós humanos, os supremos predadores vorazes e insaciáveis, ou melhor seria dizer, os supremos depredadores vorazes e insaciáveis. Essa é a linguagem, expressão, mensagem inteligível da natureza, como sempre foi, mas nossa raça, no topo soberbo do pedestal do Templo da Idiossincrasia, vez que, no geral, só entendendemos a linguagem que queremos entender, inclusive, na convivência entre nós mesmos. Por esse motivo, nem entre nós, conseguimos nos entender e encontrarmos pontos de equilíbrio, razoabilidade.
    Você me fez lembrar de minha infância, quando tinha por volta dos 10, 12 anos, lá pelos idos de 1975, 1977.
    A família de minha mãe é de São Gonçalo/RJ. Nessa época, meus avós maternos eram vivos e moravam lá numa casa que hoje em dia seria considerada de classe média, com sala, 3 quartos, cozinha, 1 banheiro e área de serviço. Onde minha mãe, seus 2 irmãos e mais 1 irmã foram criados e onde eu costumava passar férias escolares, já que a maior atração para uma criança da cidade grande era o quintal com diversas espécies de árvores frutíferas, tal como, mangueiras, sapotí, caquí, mamoeiros, goiabeiras, bananeiras, limoeiro e laranja da terra, além de abacaxí, cana de açúcar, bambuzal e claro, das roseiras, margaridas e outras flores que nem me lembro o nome e que meus avós carinhosamente cuidavam. Isso sem falar nos 2 cachorrinhos, também muito queridos, com quem eu me divertia brincando.
    Apesar dessa diversidade, não chegava a haver uma produção para o comércio, apenas para consumo próprio da família, como é tão comum em áreas mais rurais. São Gonçalo/RJ, nessa época, seguramente tinha 1/3 ou menos da densidade numérica populacional de hoje em dia. Lembro-me também, que havia sereno à noite, de modo que, pela manhã, as plantas estavam molhadas de orvalho.
    Hoje em dia, isso são apenas memórias, nada disso mais há e as gerações mais jovens que lá vivem, sequer devem disso saber. Mesmo São Paulo/SP, a maior cidade brasileira, já foi chamada de Terra da Garôa. Isso também é passado, apenas memórias e provavelmente, as novas gerações também sequer devem ter conhecimento disso. Vários lugares e cidades em nosso país e no planeta estão sofrendo alterações semelhantes.
    Tenho certeza que você também tem suas memórias e que concorde comigo de que, antigamente, as estações do ano eram mais características, personalizadas e pontuais do que hoje em dia. Nos tempos atuais, aquí no Rio de Janeiro/RJ e arredores, no genérico, temos calor e menos calor.
    Felicidades e boas energias.

    ResponderExcluir
  5. Meu caro Marcelo, para de tempo, você é 10, para defender o partido dos trambiqueiros e seu chefe maior, você é o...
    vê se acorda rapaz, o pior cego é aquele que não quer ver!

    ResponderExcluir
  6. Há tempo para tudo. Tempo para apontar os erros e tempo para elogiar. Tempo para falar e tempo para calar. Tempo para trabalhar incansavelmente, sem deixar de sonhar e desejar coisas boas, sempre.
    O tempo tem muitos tempos. Simultâneos, conflitantes ou concordantes.
    O tempo neste instante é perceber o que à nossa volta nos diz: como é bonito, cmo é bom. A liuz do outono no rio.

    ResponderExcluir
  7. Mudou sim, eu tinha reparado já no inicio de março.
    Uma brisa mais fresca, um sol menos intenso,noites mais bonitas. Um prenuncio do outono que se aproxima.
    O outono nos ensina o equilíbrio de forças da natureza.
    Sem duvida um texto/poesia de tirar o chapéu. Muito oportuno.
    Peço sua permissão para copiar ou imprimir.

    Sergio.

    ResponderExcluir
  8. Acho que o Marcelo jamais fechou seus olhos e pode ver muito bem tudo o que aconteceu é que nos remeteu à essa situação. Ao contrário de você, que parece estar abrindo os seus somente agora, num dos piores momentos da nossa história recente.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas