Ted Boy Marino

Depois do goleiro Félix e do astronauta Neil Armstrong, morreu outro herói da minha infância: Ted Boy Marino, lutador de telecatch, uma pancadaria fake exibida na TV quando eu tinha uns cinco ou seis anos de idade.

Os lutadores de telecatch eram caricatos, e a luta, combinada. Tudo pensado e ensaiado para que nenhum dos acrobáticos artistas se machucasse durante o show. O piso do ringue, por exemplo, cedia um pouco, para que as quedas fossem amortecidas.

Ted era o mocinho, e se deparava com adversários medonhos como o Verdugo, que não dobrava braços e pernas, andava todo duro, e o Múmia, todo enfaixado, recém-saído do seu sarcófago. Os vilões, por sinal, eram sempre figuras estranhas com nomes curiosos, como Rasputin, Demônio Cubano, Cavaleiro Vermelho, Tigre Paraguaio...

A dinâmica do show nunca mudava. Ted Boy Marino era torturado por seu adversário durante quase toda a luta e, no final, com uma recuperação impressionante, acabava vencendo. Em casa, eu imitava aqueles golpes, todos com nomes sugestivos, como o tacle, que consistia em voar com os dois pés no peito do oponente.

Tudo de mentirinha, faço questão de frisar nesses tempos em que tirar sangue do rosto do adversário virou o "esporte" que mais ganha adeptos no Brasil e talvez no mundo. Triste ver a luta livre, o vale tudo, esse tal de MMA, massificando a violência quase sem regras. E incentivando jovens irresponsáveis, movidos a vodca e energéticos, a fazerem das boates ringues para extravasar gratuitamente suas frustrações. A violência tornou-se cultural e endêmica. Agredir com socos e pontapés um oponente caído vai contra os princípios de todas as artes marciais genuínas. Mas pais idiotas estão colocando crianças de oito, nove anos para praticar essa selvageria disfarçada de esporte.

Bons tempos em que os atletas do telecatch treinavam para dar um espetáculo e não para machucar seus companheiros. Ted Boy Marino me impressionava não só por sua agilidade e destreza, mas também pelos cabelos loiros. Quando ficou mais velho, passou a integrar o elenco de Os Trapalhões.

Acho que aquele argentino foi o primeiro cara loiro que eu vi na vida, numa minúscula TV preto e branco, em cuja tela passou boa parte da minha infância.






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Comentários

  1. Também me diverti muito com Ted Boy Marino e cia.

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  2. Lembra que uma vez escrevi que dei de cara com o Raul Seixas no elevador do predio onde morava?
    Tinha saido de SP e morava no apto. dos meus tios no 290 da Atlantica, no Leme, no sexto andar.
    Pois bem... No quarto andar morava o Ted Boy Marino, que acabei conhecendo.
    Tambem foi um "heroi" para mim. Apanhava, apanhava e depois cobria os viloes de porradas. Quando o conheci, creio, ja nao lutava mais e participava do programa dos trapalhoes.
    Uma pessoa simples, agradavel, que sempre parava para um curto papo quando este chato, entao com 18 anos, o encontrava e -sempre- tinha algo para falar...
    Mais um -que curti na infancia e adolecencia- que se foi.
    Quando encontramos nomes de amigos ou conhecidos em obituarios temos a confirmacao de que estamos ficando velhos, Marcelo.

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  3. Menos, Marcelo. Encontrei o Raul 2 vezes no elevador mas ele nunca morou la. Ia no apto de alguem. (Mas que foi uma tremenda emocao, foi!)

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  4. Bela homenagem ao Ted e ao entretenimento ingênuo, circense, sadio, não violento e muito mais divertido q o sangue derramado sob deprimentes aplausos. drum

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  5. Não perdia um "Astros do Ringue", eu me reunia com meus amigos para podermos assistir e torcer juntos.
    Uns gostavam do estilo do Diabo Louro, do Múmia ou do Fantomas, mas o meu ídolo era sempre o Ted Boy Marino.
    Hoje não tenho a menor vontade de assistir ao vale tudo.

    Cury

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  6. Walcar eu gostava de ver seu pai lutar, ele era o mais forte dos lutadores, o Ted Boy tinha mais agilidade, mas o Diabo Loiro tinha força.
    Ontem estava revendo algumas lutas, e a do Aquiles com o Diabo Loiro deixou os fãs assustados.

    Lembro-me do Beto Anjo Loiro que era filho do Diabo Loiro.

    Grande abraço,
    Cury

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  7. Sempre achei o telecatch uma bobagem e totalmente sem graca. Entretanto, era feita de forma quase inocente e ninguem via uma gota de sangue no palco. Hoje, diante da popularidade do UFC e da quantitade de sangue apresentada quase ao vivo na globo, preciso mais uma vez, rever conceitos e admitir que naquele tempo era bem melhor. Ja tive que rever meus conceitos em relacao a musica, ao futebol, ao cinema...Sintoma de velhice...talvez, afinal tambem nasci em 63 rsrsrs...

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  8. e mais,marcelo,torcia para o nosso tricolor.abs!roberto vianna

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  9. Pois é, acabou de nos deixar a simpática Hebe Camargo. Eu acredito que o espirito sobrevive, e após o fenômeno da morte, recuperado, ele se sente surpreso quando se descobre vivo.
    Sergio.

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