Milhares de gatos pingados

Antes de mais nada, deixo claro que gosto de gatos. Como passei a infância toda morando em apartamentos, era o único bicho que eu podia ter (queria mesmo era um cavalo igual ao do Zorro). Nem um trauma me fez deixar de gostar dos bichanos: aos seis anos, uma siamesa nossa se atirou do quarto andar. Dizem que essa raça tem vertigem e instinto suicida, mas até hoje me pergunto se minha mãe não estava de TPM naquele dia...

Não morreu, só quebrou um dente. Canino!

O fato é que a afeição por esse tipo de animal atravessa gerações na nossa família. Minha filha acaba de ganhar seu segundo gato, um filhote sobrevivente de uma chacina, já que sua família foi toda devorada por um gambá dentro de um clube aqui do Rio. Coisas do mundo animal.

Mas quando o bicho-homem, na sua eterna ignorância e na sua indefectível vaidade, cisma de interferir da natureza, o resultado é sempre desastroso e o que ocorreu foi que...


Depois da praga dos pombos...

Pombos/ Foto: Marcelo Migliaccio


E da dos micos, ambos alimentados por burros mais carentes do que eles...

Micos/ Foto: Marcelo Migliaccio


Instaurou-se na cidade outra epidemia que não a de crack. A dos gatos. O animal que os alimenta é o mesmo... e o estrago que fazem dizimando os passarinhos, também.

Gatos/ Foto: Marcelo Migliaccio


Tal é a fartura que eles hoje levam uma vida tranquila, apreciando a paisagem da Cidade Maravilhosa

Gatos/ Foto: Marcelo Migliaccio


Comida não falta, nem aos domingos!

Gatos/ Foto: Marcelo Migliaccio


Alguns já ganharam até casa própria...

Gatos/ Foto: Marcelo Migliaccio


Nos dias de folga, que são todos, nada melhor que sentar num bar e pedir um chopinho

Gatos/ Foto: Marcelo Migliaccio


Quando saem das baladas noturnas, os que beberam, responsáveis, vão de táxi.

Gatos/ Foto: Marcelo Migliaccio


É triste, mas alguns sucumbiram ao vício do álcool e foram parar no Pinel.

Gatos/ Foto: Marcelo Migliaccio


Em geral, no entanto, são muito ajuizados. Chegam até à universidade...

Gatos/ Foto: Marcelo Migliaccio


Só não lhes peça que façam ginástica, porque o gato é primo do bicho-preguiça.

Gatos/ Foto: Marcelo Migliaccio



Nem os cachorros eles temem mais...

Gatos/ Foto: Marcelo Migliaccio


No Campo de Santana, convivem em harmonia com as cotias. Afinal, quem vai ser trouxa de correr atrás desses ratos gigantes?

Gatos/ Foto: Marcelo Migliaccio


E, quando aparece alguém pra cantar de galo, se escondem...

Gatos/ Foto: Marcelo Migliaccio

Por isso, dizem, têm sete vidas. Uma para cada dia da semana.

Comentários

  1. Bicho, prá manter o tom, juro que, há uns três anos, quando, em caminhada diária, passava pela Enseada de Botafogo, ratazanas dividiam com gatos, restos de alimentos, lado a lado, em perfeita harmonia. Não fui taxado de mentiroso quando relatei o fato à outras pessoas, porque, alguns parceiros de caminhada, filmaram o fato, em celular. Pensei: cadê os gatos de antigamente?
    Abraço e bom domingo,

    ANTONIO Carlos

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    1. Gato e rato comendo lado a lado? Nessa nem eleitor do DEM acredita... abração

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  2. O gato é um animal interessante, ele não é puxa-saco do Homem. Ninguém nunca viu gato em circo fazendo o Homem rir, muita gente não gosta de gato por isso. As fotos dos bichanos pela cidade, e os comentários tão ótimos.
    Sergio.

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    1. É isso que eu mais admiro nos gatos, sua independência, e ainda tem gente que acha que precisa levar comida pra eles. Resultado: se proliferam e comem os passarinhos, seus filhotes e seus ovos...

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  3. Eh interessante notar que caes gostam das pessoas com quem vivem ja os gatos gostam dos lugares onde vivem.
    Com raras excecoes um felino vem quando chamamos. Na maioria das vezes da, no maximo, uma olhada para aquele chato que esta fazendo barulho. ja os caes batem os rabos e correm para quem chamou.
    Gatos sao mais independentes do que os caes.
    Tive ambos durante um bom tempo da minha vida e hoje tenho caes: duas "meninas" (mae e filha) da raca Maltes. Ambas devidamente operadas de forma que, sexo, soh por sacanagem. Engravidar jamais!
    Minha mae, do alto dos seus 80 e poucos anos, vive em Sao Paulo (ninguem eh perfeito...) num apartamento em um conjunto residencial digno de SP: sao "entos" predios com sei-la-quantos apartamentos. Creio que tem mais gente la do que em muitas cidadezinhas esparramadas pelo Brasil.
    O passatempo dela eh cuidar dos gatos, que ela adora. O bonito disso eh que ela, alem de alimentar e tratar (quando ve um com algo e consegue pegar com a ajuda de outros participantes, leva ao veterinario). Quando leva um ao veterinario, esse castra evitando a proliferacao maior do que ja existe e o seu trabalho passou a receber o apoio do condominio.
    Mesmo assim, ja ocorreram envenenamentos de alguns, provavelmente por animais que moram em apartamentos... As vezes temos um monstro morando ao lado sem saber...
    Acho bonito o trabalho dela.

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    1. Acho que é essa independência que faz alguns antipatizarem com os gatos

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  4. *Momento "A praça é nossa":

    Poxa Marcelo, pensei que a sua gata tinha quebrado era o dente 'felino'! rs

    Abração meu caro.

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  5. Complementando a postagem anterior: Sabia ser pouco possível acreditar nessa anomiia do comportamento felino, mas, como citei, companheiros de caminhada resgistram a imagem, e nenhum de nós é eleitor do DEM.
    Sobre o comportamento singular do gato, Nise da Silveira, Psquiatra Junguiana, criadora do Museu do Inconsciente, onde fiz estágio, convivia, em sua casa, no Cosme Velho, com aproximadamente, cem gatos. Não bastasse,escreveu um livro interessantísimo sobre esse animal, abordando sua singularidade atitudinal e comportamental, não apenas, em sua relação com o homem, como, em relação aos outros animais domésticos, de sua independência, á percepção aguçada de seu (dono?) e dos vários ambintes em que circula, além, da provável intuição felina.
    No campo da percepção, interessante, o fundo, ou seria figura, de seu texto, onde um casal interracial, interage ludicamente. Tal comportamento do animal considerado superior, causa, cada vez menos estranheza, e quem sabe, um dia, cause nenhuma.

    ANTONIO CARLOS

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  6. Na minha rua constantemente vejo saguis e esquilos passeando pelas árvores, fios e até no chão.
    Pena que os saguis acabam com os ninhos dos passarinhos, esses predadores são terríveis para os pássaros.

    Cury

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  7. Em Belo Horizonte na Rua dos Tamoios tinha uma lanchonete chamada O Gato que Ri, o atendimento era bom, viva o Gato.

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    1. Só não dá pra pedir churrasquinho num lugar com um nome desses...

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  8. Gatos são independentes, elegantes, charmosos, inteligentes, desconfiados. Com ele não tem essa de “é dando que se recebe”. Ele não é hipócrita, pois não lambe a mão de quem o alimenta. Se bem tratado, ele fica, gosta de mimos, de cuidados. Mas se quiser um escudeiro fiel, desista, adote outro bicho, porque seu compromisso é exclusivamente consigo e com a liberdade. Ele é “doméstico” enquanto conveniente.

    Destino outro teria o gatinho do Pinel, se tivesse encontrado em seu caminho a Dra. Nise da Silveira. Ela que adorava gatos e revolucionou o tratamento da esquizofrenia no Brasil, introduzindo, inclusive, gatos e cães como “co-terapeutas”. Em uma entrevista ela disse certa vez: ”A sensibilidade do animal é muito mais fina e superior do que a sensibilidade do bicho gente”. Sabedoria felina.

    Mas se este bichano abunda nas ruas e parques do Rio, há inúmeras reclamações quanto à falta de “gatos” na praça, inclusive quando se procura esse espécime em outra praça. Ontem mesmo flagrei na fila do supermercado uma conversa entre duas gatinhas paulistanas, que comentavam da frustração da balada na noite anterior:

    - Liguei pro Beto e falei que a galera ia sair pra conhecer a Lapa, se ele tinha algum amigo gato pra levar, tipo pra ficar mesmo, tipo do sexo masculino... Ele disse que ia ver essa parada, mas ficou só na promessa.

    Acho que entrou gato na tuba.

    Houve um tempo em que tive muitas reservas quanto a ter gato. Entretanto, me apaixonei a primeira vista por um persa que é bonito, macio e carinhoso. Quieto e enigmático, mas também vaidoso. Tanto que quando se olha no espelho, vê um leão refletido.

    Amo meu gato que hoje vive a ronronar pra mim.

    E dizem que ronronar é sinal de felicidade.










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  9. Gato, pra mim, só os que têm 1,80 e sabem dançar. O resto é alergia. Além do mais, os inteligentes que não se deixem iludir, porque gato escaldado sabe pular e os que passaram dos 40 são campeões em saltos ornamentais.

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  10. Os bichanos só aprecio nas fotos,são fofos !Ficar fiscalizando a natureza não é comigo e eles são,pra mim,o símbolo da preguiça !Concordo ,também ,com a
    Fernanda plenamente.

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  11. Ainda, sobre gatos, ratos e outros bichos:

    Como não lembrava do nome do livro de Nise da Silveira, dei uma rápida googlada, e aí vai: Gatos, a emoção de cuidar-Léo Christiano editora-1998.

    Aproveitando o momento, cito um filme sobre um gato especial, que talvez, você já tenha assistido.
    Um dia, um gato,filme tcheco, de 1963,de V. Josny´.
    O gato, em questão, de circo, usa óculos escuros, e ao retirá-los, percebe as pessoas, em diferentes cores, conforme seu caráter: egoístas, mentirosos, ladrões, etc. Claro, cria situações muito embaraçosas para os habitantes da cidade onde o circo se apresentava. Genial, considero.
    Assisti ao filme, há tanto tempo, que não lembro quanto. Foi num Festival de Cinema, no Estação botafogo, quando só haviam duas salas. O terceiro cinema, onde rolava o Festiva, era o Estação Paissandú. Á propósito, o Festival era patrocinado, pelo Banco Nacional, que, quando faliu, tomamos conhecimento que, em sua admnistração, gatos e ratos, conviviam em perfeita harmonia.
    Encerrando, creio que os gatos e ratazanas, flagrados por mim e alguns companheiros de caminhada, na Enseada de Botafogo, podem lidos, como as alianças surreais, que determinado partido constrói, em nome da governabilidade. Ah, se o gato do filme olhasse prá esses políticos, talvez, o Mensalão não existisse.
    Abraço felino, sem óculos escuros.

    ANTONIO CARLOS

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    1. Vi esse filme sim! Marcou a minha infância e me despertou a paixão por esse animal.

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  12. Para começar, qualquer mulher adoooooooora ser chamada de gata e qual homem não se envaidece ou pavoneia?! quando ouve dela: vem cá, meu gato.

    Ainda não vi um(a) gato(a) vira lata ou de raça...feio(a) e inoportuno(a) e barulhento(a) e/ou mal educado(a).E são chiques, sim!
    Posso não ser um bom observador?!

    Bem lembrado o livro da Nise da Silveira, pelo Antônio Carlos.

    Reproduzo este texto do Clécio Branco_ embora eu não possua esta super estética escultura viva em casa_ pela exatidão e pertinência, na minha desimportante avaliação.

    Gatos
    Não há nada para entender nos gatos, não há nada a ser interpretado neles, os gatos são tipos ideais que, ao lado dos animais selvagens, são os verdadeiros aristocratas domésticos, têm um estilo próprio de viver. Os gatos parecem fingir uma domesticação que não lhes é própria: deitam nos lugares mais confortáveis da casa, aceitam os afagos de seus “donos”, são absolutamente higiênicos.

    Dizem que os gatos não se deixam escolher, são eles que sempre escolhem. Também parece ser verdade quanto ao amor, gatos não amam seus donos, amam a casa que lhe proporcionam conforto. Como aristocratas que são, eles se autodeterminam: se alongam após longos cochilos, não comem qualquer coisa, escolhem quem poderá lhes tocar, se ausentam à noite sem pedir permissão e voltam quando desejam.
    Gatos não se assujeitam nunca. Eles transitam sempre nos espaços entre as coisas, daí não serem inteiramente segmentarizados como os cachorros, exceto os vira-latas que desenvolvem a capacidade de sobreviver na cidade como nômades. Os cachorros segmentarizados que são, obedecem, temem, respondem ao nome (últimamente, usam roupinhas humanas, sapatilhas, etc.) e são facilmente adestrados. Ao contrário dos gatos que habitam territórios lisos, não segmentarizados, não definidos por nomes ou atitudes de adestramento: eles usam a caixa de areia por puro instinto. Estão continuamente submersos na vida pura, préindividual e présubjetiva, sem uma identidade que os enquadre nisso ou naquilo, eles estão entre as definições.

    Toda atribuição de valor que se impõe aos gatos não lhes é própria. Basta olhar nos olhos dos gatos para perceber que trata-se de um olhar imanente à própria vida, por isso, eles olham de frente sem o temor próprio dos cachorros. Os gatos não se hierarquizam sob uma ordem de valores transcendentes, por isso são absolutamente livres de culpa. Embora, sejam indivíduos, vida individual; eles não são sujeitos, nunca se deixam assujeitar, são atravessados pela vida pura, o mais puro instinto de vida. O território dos gatos – nesse entre – tem menos a ver com deslocamento do que com intensidades, eles são intensidade pura embora ocupem territórios restritos e métricos. Os gatos abominam a velocidade e a pressa, eles “escolheram” a lentidão e a preguiça, quase não se estressam, só em situações de ameaça e sobrevivência
    Do ponto de vista ético e estético, os seres humanos deveriam se assemelhar mais aos gatos.
    Abraço
    Marcos Lúcio

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    1. Marcos Lúcio, você está enganado: nem todas as mulheres gostam de ser chamadas de gata. Eu, por exemplo, detesto! (Há outros bichos mais interessantes, mas isso não vem ao caso aqui. Quem sabe um dia escrevo sobre o assunto e a gente discute este assunto melhor)...

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    2. Fernanda...sem querer e nem poder contestá-la por n motivos, inclusive porque não sou e nem gostaria de ser mulher, sinceramente, você é a primeira que conheço e, naturalmente, não deve ser a única. Ainda assim, exceções existem para confirmar e conformar regras.Mas não se esqueça de que existem mulheres e mulheres. Qual mulher se ofenderia ou se sentiria feia ou desprezada sabendo que acharam-na uma gata? Não gostar de gatos ou preferir ser chamada de outro animal mais interessante ou estético ou chique (desconheço qual seria...pantera?tigreza?...ainda assim são da mesma família... rs) é outra história. Naturalmente estou-me referindo a aspecto físico,à beleza exclusivamente. Para sexo, sei que há inúmeras preferências...inclusive nenhum nome de animal.

      Para conquistar uma mulher, aí o jogo é outro. Até a Martha Medeiros já deu dicas, como neste recorte que fiz do texto dela:

      "Qual o elogio que uma mulher adora receber? Bom, se você está com tempo, pode-se listar aqui uns setecentos: mulher adora que verbalizem seus atributos, sejam eles físicos ou morais. Diga que ela é uma mulher inteligente, e ela irá com a sua cara. Diga que ela tem um ótimo caráter e um corpo que é uma provocação, e ela decorará o seu número. Fale do seu olhar, da sua pele, do seu sorriso, da sua presença de espírito, da sua aura de mistério, de como ela tem classe: ela achará você muito observador e lhe dará uma cópia da chave de casa".

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    3. Anônimo... Não gosto de ser chamada de "gata" simplesmente porque acho vulgar e extremamente lugar-comum. Não tem a ver com me ofender e muito menos com me achar feia, o que seria realmente um absurdo, dado que auto-estima é coisa que não me falta, embora a gente nunca agrade a gregos e troianos. Mas veja... eu acho o gato um bicho lindo e bem chique! E não é o caso também de querer ser chamada de "tigresa" ou de "pantera", porque isso também é brega. Pra terminar, digo que aprecio a Martha Medeiros, mas neste ponto não concordo com ela: um homem precisa ir bem além dos galanteios para ganhar a chave da minha casa; detesto elogios tipo lugar-comum, que cheiram a conquista barata.

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