Sabadão em Madureira
Nada de praia, muito menos de shopping, nem de Pão de Açúcar, nem de Cristo Redentor. Peguei a outra metade da laranja pelo braço e rumei para a Central do Brasil. Logo na chegada, surpresa com a degradação da área que circunda a estação de trem no centro do Rio. Uma cracolândia foi instalada numa das ruas vizinhas. Pessoas terminais perto do terminal ferroviário... Mas a viagem estava apenas começando e aquela cena deprimente logo ficou pra trás.
Entramos num trem novinho (sorte) e rumamos para Madureira. De carro leva mais de uma hora num dia de semana; sobre os trilhos, sempre 20 minutos. Composição vazia, dia lindo, uma delícia. Ruim, só o preço da tarifa, R$ 2,90. Por isso, trabalhadores que não ganham o suficiente para ir e voltar para casa durante a semana, dormem sob as marquises do centro da cidade.
Este ano, estive no tradicional bairro da Zona Norte carioca para gravar uma entrevista. Achei o coração comercial daquela área muito interessante e, desde então, já voltei umas duas vezes lá, a passeio.
Aos sábados, o comércio fica ainda mais fervilhante e o epicentro é no Mercadão de Madureira, um shopping popularíssimo, pródigo em lojas de artigos para festas infantis e para umbanda e candomblé em seus dois andares. Mas as ruas em volta também ficam lotadas, como mostra a passarela.
As ruas, aliás, são muito sujas, há calçadas esburacadas e o carioca nunca primou pela educação mas, de vez em quando, eu preciso tomar um banho dessa carioquice mais rústica e Madureira é um dos melhores lugares do Rio para isso. Só nesta cidade maravilhosa, o currículo do cabeleireiro ganha em destaque na fachada.
Olha como ficou a loja por causa da liquidação. Não dava nem pra andar lá dentro.
As crianças se fascinam mesmo é com os peixes no Shopping dos Peixinhos (é esse o nome de um outro centro comecial de lá). Foi ali que tomei um suco de laranja na loja de um chinês. Ou o suco já estava pronto ou o china deveria entrar pro livro dos recordes como espremedor de laranja mais rápido do Oeste. Ou melhor, da Zona Norte. Todo sorrisos, ele garantiu que fez na hora, mas acho que já foi contaminado pela malandragem carioca.
Opções de comida não faltam. Tem até uma pizzaria a céu aberto. Barata, diga-se de passagem, pena que não provei pra contar se é boa.
Dentro do Mercadão tem de tudo para fazer um despacho vestido com pompa. Em frente as uma das lojas, uma mulher dizia à outra:
_ ... Ela ganha salário mínimo, como vai gastar cem reais pra fazer macumba contra mim?
Há dois aviários dentro do Mercadão. Num deles, pela primeira vez, vi uma galinha do pescoço pelado, que só conhecia de nome... ela estava pensativa, talvez apreensiva quanto ao seu futuro.
É possível comprar até filhotes de bode. Ouvi dizer que muitos acabam sacrificados em rituais, uma maldade. Cento e dez reais cada um. Vai?
Se um bode é demais, leve um filhote de hamster.
Mas a fome apertou e Madureira não é um lugar onde se possa comer sem medo. Então foi melhor pegar o caminho da Zona Sul, onde uma intoxicação alimentar, pelo menos, custa caro. Antes de voltar, uma olhada na singela igrejinha no alto do morro São José.
Na volta, num trem velho e enferrujado (azar), um solitário passageiro lia a Bíblia.
Até outro dia, Madureira.
Entramos num trem novinho (sorte) e rumamos para Madureira. De carro leva mais de uma hora num dia de semana; sobre os trilhos, sempre 20 minutos. Composição vazia, dia lindo, uma delícia. Ruim, só o preço da tarifa, R$ 2,90. Por isso, trabalhadores que não ganham o suficiente para ir e voltar para casa durante a semana, dormem sob as marquises do centro da cidade.
Este ano, estive no tradicional bairro da Zona Norte carioca para gravar uma entrevista. Achei o coração comercial daquela área muito interessante e, desde então, já voltei umas duas vezes lá, a passeio.
Aos sábados, o comércio fica ainda mais fervilhante e o epicentro é no Mercadão de Madureira, um shopping popularíssimo, pródigo em lojas de artigos para festas infantis e para umbanda e candomblé em seus dois andares. Mas as ruas em volta também ficam lotadas, como mostra a passarela.
As ruas, aliás, são muito sujas, há calçadas esburacadas e o carioca nunca primou pela educação mas, de vez em quando, eu preciso tomar um banho dessa carioquice mais rústica e Madureira é um dos melhores lugares do Rio para isso. Só nesta cidade maravilhosa, o currículo do cabeleireiro ganha em destaque na fachada.
Olha como ficou a loja por causa da liquidação. Não dava nem pra andar lá dentro.
As crianças se fascinam mesmo é com os peixes no Shopping dos Peixinhos (é esse o nome de um outro centro comecial de lá). Foi ali que tomei um suco de laranja na loja de um chinês. Ou o suco já estava pronto ou o china deveria entrar pro livro dos recordes como espremedor de laranja mais rápido do Oeste. Ou melhor, da Zona Norte. Todo sorrisos, ele garantiu que fez na hora, mas acho que já foi contaminado pela malandragem carioca.
Opções de comida não faltam. Tem até uma pizzaria a céu aberto. Barata, diga-se de passagem, pena que não provei pra contar se é boa.
Dentro do Mercadão tem de tudo para fazer um despacho vestido com pompa. Em frente as uma das lojas, uma mulher dizia à outra:
_ ... Ela ganha salário mínimo, como vai gastar cem reais pra fazer macumba contra mim?
Há dois aviários dentro do Mercadão. Num deles, pela primeira vez, vi uma galinha do pescoço pelado, que só conhecia de nome... ela estava pensativa, talvez apreensiva quanto ao seu futuro.
É possível comprar até filhotes de bode. Ouvi dizer que muitos acabam sacrificados em rituais, uma maldade. Cento e dez reais cada um. Vai?
Se um bode é demais, leve um filhote de hamster.
Mas a fome apertou e Madureira não é um lugar onde se possa comer sem medo. Então foi melhor pegar o caminho da Zona Sul, onde uma intoxicação alimentar, pelo menos, custa caro. Antes de voltar, uma olhada na singela igrejinha no alto do morro São José.
Na volta, num trem velho e enferrujado (azar), um solitário passageiro lia a Bíblia.
Até outro dia, Madureira.
Marcelo, eu fiz esse caminho durante alguns anos da minha vida, quando trabalhava em Madureira, cada dia ia em um lado da janela do trem, contemplando as ruas e casas do nosso bom e velho subúrbio.
ResponderExcluirSeus passeios são criativas e proveitosas para seus leitores.
Uma sugestão:
Vá a Niterói de barca e nos conte como foi seu passei à Cidade Sorriso.
Cury
Boa ideia, Cury, farei.
ExcluirPassa o endereço do cabeleireiro formado em Paris!
ResponderExcluirRua do Cabelo em Pé, número zero.
ExcluirO Fernanda, vai nao! O cara se formou na PRACA Paris!
ExcluirQue tal um passeio no Domingo em Paqueta?
ResponderExcluirQuando eu era pequeno fui com meus pais a Paquetá, uma decepção, longe pacas e praias imundas. Acabamos no fim da tarde, mergulhando na Praia do Leme...
Excluirhttp://eco4planet.com/blog/2012/08/israelense-cria-bicicleta-com-9-dolares-usando-papelao/
ResponderExcluirMilton Nascimento em sua música Notícias do Brasil, já cantava que "a novidade é que o Brasil não é só litoral, é muito mais que qualquer Zona Sul...". Parece-me Marcelo, que você levou muito tempo para descobrir isso em relação ao Rio??? Por outro lado, lembro-me de já ter encontrado duas vezes com o grande Flávio Migliaccio, em um Fiat amarelo, se não estou enganado, uma vez na Universidade Rural do Rio quando eu trabalhava com criação de peixes e outra no próprio bairro de Madureira, em frente ao curso Martins onde estudei, quando ele me pediu uma informação e parecia meio perdido no subúrbio rsrsrs...
ResponderExcluirÉ de família mesmo...
ExcluirMarcelo, seu texto é sempre bom, mas fiquei amarrado mesmo nas fotos, espero q quando no Rio possas me levar a Madureira.
ResponderExcluirBravo Marcelo...show esse texto...prá descrever o Rio vc é ótimo...parabéns...!!!
ResponderExcluirMarcos Pinto -RJ ( de volta de Santarém - PA )
Bem-vindo, Marcos!
ResponderExcluirQue tal fazer um passeio a Madureira, mas desta vez,ande mais um pouco, logo depois do mercadão. Tenho certeza que verá a degradação humana, adultos e crianças tornando-se "craques" em achar o caminho mais rápido para a morte,passe na frente da Serrinha(comunidade),somente assim verá que Madureira não tem tanta beleza quanto vc achou.
ResponderExcluirPara ver gente usando crack não preciso nem pegar o trem. Atrás da Central do Brasil há uma rua em que uma cracolândia funciona dia e noite. A polícia militar passa de carro e nada faz.
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