O incrível homem que não dormia
Não cheguei a saber o seu nome, mas apostaria todas as minhas fichas em José ou João. O pessoal da barraca de coco e refrigerante instalada na areia da Praia Vermelha chamava-o de Baixinho.
De fato, não era alto. Tinha 42 anos, mas aparentava 60, certamente pelo hábito de beber cachaça, iniciado ainda criança, quando roubava garrafas de aguardente do pai e enterrava no quintal para beber sozinho.
Sobre futebol, me disse a coisa mais confusa que já ouvi:
_ Quando eu morava lá na Paraíba, torcia para o Vasco. mas, quando vim pro Rio, virei Flamengo.
_ Eu sou Fluminense _ entabulei meio sem entender o vira-casaca descamisado.
_ Ah, mas quando jogam Flamengo e Fluminense, eu torço pro Fluminense _ surpreendeu-me ele novamente.
Meu sobressalto nesse momento só não foi maior do que quando o Baixinho me disse que passava as noites inteiras andando pela cidade atrás de latinhas.
_ Você, então, dorme de dia... _ concluí.
_ Não, de dia eu trabalho aqui na barraca.
_ Ué! E que horas você dorme?
_ Eu não durmo, não.
_ Não dorme!?
_ Não.
_ Como assim, cara?
_ Durmo não.
Comecei imediatamente a pensar em como eu, afortunado jornalista, comunicaria aquilo à Humanidade.
"O incrível homem que não dorme".
Imaginei as manchetes garrafais em todos os idiomas e dialetos do planeta. Cientistas debruçados sobre a minha descoberta. E eu lá, cheio de holofotes, como se fosse um participante do Big Brother que nunca mais seria eliminado do grand monde.
Meu sonho, no entanto, durou pouco.
Resolvi perguntar uma última vez, antes de pegar minha filmadora para registrar Baixinho, o fenômeno da natureza, se ele realmente não dormia.
_ Só quando eu tô com sono, aí eu durmo.
De fato, não era alto. Tinha 42 anos, mas aparentava 60, certamente pelo hábito de beber cachaça, iniciado ainda criança, quando roubava garrafas de aguardente do pai e enterrava no quintal para beber sozinho.
Sobre futebol, me disse a coisa mais confusa que já ouvi:
_ Quando eu morava lá na Paraíba, torcia para o Vasco. mas, quando vim pro Rio, virei Flamengo.
_ Eu sou Fluminense _ entabulei meio sem entender o vira-casaca descamisado.
_ Ah, mas quando jogam Flamengo e Fluminense, eu torço pro Fluminense _ surpreendeu-me ele novamente.
Meu sobressalto nesse momento só não foi maior do que quando o Baixinho me disse que passava as noites inteiras andando pela cidade atrás de latinhas.
_ Você, então, dorme de dia... _ concluí.
_ Não, de dia eu trabalho aqui na barraca.
_ Ué! E que horas você dorme?
_ Eu não durmo, não.
_ Não dorme!?
_ Não.
_ Como assim, cara?
_ Durmo não.
Comecei imediatamente a pensar em como eu, afortunado jornalista, comunicaria aquilo à Humanidade.
"O incrível homem que não dorme".
Imaginei as manchetes garrafais em todos os idiomas e dialetos do planeta. Cientistas debruçados sobre a minha descoberta. E eu lá, cheio de holofotes, como se fosse um participante do Big Brother que nunca mais seria eliminado do grand monde.
Meu sonho, no entanto, durou pouco.
Resolvi perguntar uma última vez, antes de pegar minha filmadora para registrar Baixinho, o fenômeno da natureza, se ele realmente não dormia.
_ Só quando eu tô com sono, aí eu durmo.
Baixinho amassa latinhas para vender. Trabalho duro |
Sou grande admirador dos seus textos marcelo, fiquei muito contente ao encontrar esse blog há 2 semanas, pois desde o fim da edição impressa do jornal do brasil passei a sentir falta de seus textos sempre críticos e precisos. Abraços, Artur
ResponderExcluirValeu, Arthur, seja bem-vindo.
ResponderExcluirSei não, não sou tão otimista. Apesar de alguns progressos, como - que horror! - os moradores do Leblon não terem mais quem lhes limpe a latrina a troco de esmola, parece mais que, no geral, os mesmos de sempre continuam a se dar muito bem.
ResponderExcluirEsta noite, naquele telejornal daquele canal que você diz que tem nome de biscoito, aquele que é apresentado pelo informante, sabe qual?, passou uma interessante matéria sobre os setores da economia que mais lucraram.
Primeiro lugar, óbvio, para os bancos, com mais de 37 bilhões de reais.
Achei uma noticia terrível, indicativo claro da alta concentração de renda nesse país, talvez um de nossos maiores problemas. Vi uma vez aquele ex-presidente analfabeto dizer que mais vale dez reais na mão de um pobre do que um milhão na mão de um rico, pois o pobre gasta o dinheiro, fazendo a economia circular, enquanto o rico o guarda.
Mas eis que, para iluminar minha ignorância, aparece na matéria um "especialista" (o que seria de nós, homers simpsons, sem os "especialistas" neutros, imparciais e escolhidos ao acaso pela grande mídia?) afirmando que isso era muito bom, que sinalizava o aquecimento da economia.
Óbvio que é só coincidência o fato de os comerciais do jornal do informante - assim como toda a grade da tal tv com nome de biscoito - serem recheados de propaganda de banco, sem contar os merchans naquelas edificantes histórias a nós oferecidas em uma dose de mais ou menos 5 horas diárias.
Só fiquei com uma pergunta na cabeça. Nos EUA, que enfrentam uma de suas maiores crises econômicas da história, os bancos também bateram recorde de lucro.
Não entendi. Ora, mas eu sou ignorante mesmo...
Plim, plim.
Marcelo,ninguem em estado sóbrio,fala uma besteira dessa:"Sou Flamengo mas quando acontece um FlaxFlu eu torço para o Fluminense"... Certamente este cidadão tomou todas,antes de falar com vc. Abs.
ResponderExcluirMonica.
Qua! Quá! Quá! E não é que eu ri mesmo dessa história??? (Ô dona Monica Tresa, queria saber por que é que a senhora está sumida lá do meu terreiro... desistiu de mim?).
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