Na trilha de Lampião
Não vejo agência de viagem nenhuma promover o turismo em Sergipe. Nos cartazes pendurados nas vitrines, incensam Porto de Galinhas, Jericoacoara, Caribe, Punta del Este... talvez por isso consegui passagens a R$ 160 para a pouquíssimo badalada Aracaju. Chegando lá, uma supressa. Atalaia, a Ipanema deles, parece a orla de Arraial do Cabo. Poucos prédios, muitas casas, bem diferente de Boa Viagem, no Recife, onde os tubarões imobiliários tomaram conta das calçadas.
A principal praia da capital sergipana é uma beleza, imensa...
Pena que a educação dos frequentadores não esteja à altura, ainda mais numa época de greve dos garis locais. Eis o quadro numa manhã de segunda-feira.
Quem aproveita a sujeira são os gaviões.
Mas o que a gente queria mesmo era conhecer o sertão nordestino. Então foram quatro horas de viagem rumo ao interior. Na paisagem, enquanto o agreste se transformava em caatinga, muitas cabras e bodes, animais fortes o bastante para viver por aqui. Dizem que comem até pedra e areia.
E jumentos, claro, uma tradição. Às vezes, se estranhando na beira da estrada.
Um lixão assustador a caminho da terra onde reinou Lampião. Aqui gaviões, urubus e, infelizmente, pessoas sobrevivem das sobras da festa nacional do consumo.
Miséria e beleza misturadas, assim é o sertão, onde o Brasil é mais Brasil. Onde o Brasil é Brasil de verdade.
O sol nasce para todos, para o bem e para o mal.
Emoção e reverência são os sentimentos ao chegar ao lendário Rio São Francisco.
Com suas pequenas praias e sua água límpida que paradoxalmente banha o semi-árido nordestino.
No lago artificial criado pela Usina Hidrelétrica de Xingó, canions viraram atração turística.
Principalmente na simpática cidade de Piranhas, onde a escadaria para a pequena igreja perde para a da Penha por apenas cinco degraus.
Uma mistura de Paraty sem praia com Visconde de Mauá sem Mata Atlântica... essa é Piranhas.
E, enfim, entramos a pé na caatinga, uma floresta quentíssima, meio acinzentada. Com suas mais de 800 espécies plantas e que exala a história do povo nordestino.
Casas com paredes de barro, tão simples que nem dá pra acreditar, algumas conservadas desde o tempo do cangaço.
Aqui, a 800 metros do rio caatinga a dentro, Lampião e parte de seu bando foram mortos por uma patrulha da volante em 1938. Sempre há um traidor na história.
Seculares habitantes do maravilhoso ecossistema observam os forasteiros com olhares de poucos amigos. Parece que as escaramuças dos tempos dos cangaceiros ainda estão no ar.
Hora de voltar para o litoral. A fauna e a flora vão mudando novamente. A lei da natureza, no entanto, é irrevogável.
Mais e mais provas da força do nordestino.
No acampamento dos Sem Terra, certamente ninguém apoia o golpe contra Dilma Rousseff.
É hora de rezar pelo Brasil.
Sou suspeito pra falar dessa terra,pois, como já disse sou filho de Sergipanos e viajo para lá desde meus 4 anos de idade. Por algum tempo Aracaju foi eleita a cidade de melhor qualidade de vida no nordeste. Hoje não sei como anda essa pesquisa, mas talvez, por não ter a água do mar azul como a de Maceió, por se localizar próxima a desembocadura de rios, Aracaju sempre investiu muito em sua orla, que por isso é muito bem organizada e com muitas atrações gratuitas, inclusive pra crianças. Talvez seja bom a cidade não constar entre os roteiros turísticos, isso a torna mais barata para quem souber aproveitar. Ainda não decidi se volto para o Rio depois que me aposentar na Bahia, mas certamente Aracaju está nos meus planos futuros. Espero que você volte também.
ResponderExcluirO problema de voltar é que o Brasil tem muitos lugares pra conhecer. Abraço
ResponderExcluirBelíssimas , todas as fotos, com destaque para "o sol nasce para todos". Tenho uma querida afilhada que mora em Aracaju -e olha que já morou no Rio comigo- e adora a cidade...e o Nordeste (eu também) que conseguiu conhecer, por enquanto. Sobre a sujeira da praia principal, também por conta da greve dos garis, deixa Ipanema, por exemplo, com inveja. Sem greve de garis, as prais do Rio são muiiito mais sujas, evidentemente.Frequento-as, há mais de 40 anos e não "tapo sol com peneira" rs, ou não fecho os olhos para as evidentes mazelas dos muitos cariocas mal educados ou esculachados, lamentavelmente.
ResponderExcluirViajei junto...
ExcluirQue genial 👏👏👏👏👏👏👏👏
ResponderExcluirSalve a história
Salve Virgulino Ferreira
Salve o povo nordestino!