Dia triste

"Hoje o dia deu em nublado".

Um dia cinza. O telefone mudo, o chuveiro sem água, problema na bomba. Mesmo assim, o chão do banheiro está inundado. 

Abro a gaveta e vejo que ontem me deram o troco errado.

"Um dia daqueles sem graça, de chuva a bater na vidraça". Sei bem como é, Raul.

O e-mail traz mais, e más, notícias: problema nos papéis da firma.

Ver a filha triste com a mãe que sofre me joga na lona outra vez.

Levanto ainda grogue... levantar é a nossa única missão.

Olho pela escotilha e vejo os fascistas subindo pela borda da caravela. Agora, estão prestes a colocar na cadeia as crianças que não conseguem educar. E nada de ventar.

E, de novo pela internet, vem a cereja desse bolo solado: a morte do companheiro Massimo Gentile​, cuja competência e a doçura testemunhei, primeiro na Manchete e depois na Folha de S. Paulo. Massimo parecia ter pressa de desembarcar, era inteligente e sensível demais pra isso aqui. 

Adeus, amigo italiano.

Que dia... e não dá meia-noite de jeito nenhum...


Ciao, Massimo!





Comentários

  1. Meu amigo! Uma vez você escreveu algo que jamais esqueci: "As derrotas só engrandecem mais ainda a vitória." Infelizmente a roleta parou num dia ruim, mas logo logo ela gira novamente e tudo muda. Abs!!!

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  2. Linda homenagem.
    Tem dia que deveria sair do calendário, pular para o dia seguinte.
    Frei Betto escreveu muito bem sobre esse assunto:
    Não gosto do verbo morrer. Prefiro transvivenciar. A vida é um milagre excepcionalmente belo para enclausurar-se nos poucos anos que nos são dados viver. Acredito que, ao sair do casulo, todos haveremos de virar borboletas — o que é ainda mais belo e promissor.
    Cury

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  3. Dias assim não tem jeito, acontecem! Pelo menos a bela imagem de Búzios dá uma aliviada no clima...

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  4. vixe, quando eu crescer vou querer demonstrar/curtir sensibilidade assim!
    obrigado MM, por aliviar um pouco o fardo nosso de cada dia.

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  5. Ler seu texto de ontem me lembrou Cazuza: "Eu não sei o que o meu corpo abriga/Nessas noites quentes de verão/E não me importa que mil raios partam/ Qualquer sentido vago da razão/Eu ando tão down..."
    Em dias como esse que você relatou, fico quietinha, nem tento camuflar a dor...
    Pensei em escrever algo que te tirasse a tristeza, mas vi que, felizmente, deu meia-noite e o dia de ontem acabou. Espero que o nascer do dia de hoje tenha te trazido bons ventos...Ana

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  6. Lembrei-me, imediatamente, de dois Chicos:

    Roda Viva
    Chico Buarque
    Tem dias que a gente se sente
    Como quem partiu ou morreu
    A gente estancou de repente
    Ou foi o mundo então que cresceu
    A gente quer ter voz ativa
    No nosso destino mandar
    Mas eis que chega a roda-viva
    E carrega o destino pra lá...etc.

    e do grande Chico Xavier que costumava ter em cima de sua cama uma placa escrita:

    "ISSO TAMBÉM PASSA".

    Aí perguntaram para ele o porquê disso.

    E ele disse que quando estivesse passando por momentos difíceis, poder se lembrar de que eles iriam embora. Que iriam passar. E que ele teria que passar por aquilo por algum motivo.

    Mas essa placa também era para lembrá-lo que quando estivesse muito feliz, não deixar tudo para trás e se deixar levar, porque esses momentos também iriam passar e momentos difíceis também viriam de novo, ciclicamente

    E é exatamente disso que a vida é feita: "MOMENTOS". Momentos os quais temos de passar, querendo ou não, sendo bons ou não, para o nosso próprio aprendizado, se pretendemos ser bons alunos na escola da vida.


    Ao fim e ao cabo, aprenderemos a valorizar mais o que (ainda) temos , em vez de chorarmos inutilmente pelo que já perdemos...pois perder é parte inseparável deste jogo existencial. Inclusive até a própria vida , como a vivenciamos, um dia iremos inexoravelmente perdê-la.

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