Mangueira, teu cenário é uma tristeza

Já reparou como estão cortando árvores na cidade (se é que você tem tempo de reparar em alguma coisa)? No Rio, parece que virou moda. A vítima mais recente me cortou o coração, já que era uma mangueira centenária encravada num restaurante chique ao lado da estação do Pão de Açúcar. Antes, tentaram a convivência de uma forma que me fez acreditar que o mundo tinha jeito. Simplesmente construíram um telhado com aberturas por onde despontavam os potentes galhos. A arquitetura a serviço da natureza, pensei...

Foto: Marcelo Migliaccio

Mas parece que a lua de mel durou pouco e nesta semana me deparei com um enorme guindaste em frente ao restaurante. Em cima da árvore, já morta, homens serravam seus galhos. A motosserra, tão usada na Amazônia, também berra no Sudeste.

Foto: Marcelo Migliaccio

E lá se foi a mangueira, que é uma das árvores que mais me lembram essa cidade. Tão popular que virou nome da escola de samba mais famosa do Brasil.

Foto: Marcelo Migliaccio


Lá dentro, um corpo jaz.

Foto: Marcelo Migliaccio


No telhado, um remendo constrangedor.

Foto: Marcelo Migliaccio



Aqui, parece que cortar árvore não é crime. Esquecem que toda a vida na Terra depende de plantas verdes. Tudo é motivo para matar uma árvore. Como se já não bastassem as ervas daninhas que sofocam suas copas, ainda tem o homem, parasita maior da natureza. Diz que as raízes levantam a calçada, que os frutos atraem morcegos, sujam quintais, e que as folhas não deixam entrar luz nas residências...

Foto: Marcelo Migliaccio

Se a árvore está com saúde, a motosserra não entra em ação imediatamente. Primeiro, o assassino aplica uma dose de veneno. Ou duas, ou três, ou quantas for preciso. A bichinha vai secando e pronto, é mandada para aquele lugar:

Foto: Marcelo Migliaccio

Cortar árvore deveria dar cadeia. Mas se o próprio governo vai colocar duas centenas delas a baixo para construir uma estação de metrô absolutamente desnecessária na Praça Nossa Senhora da Paz, o que esperar?

Foto: Marcelo Migliaccio

Comentários

  1. Marcelo,
    Eu venho percebendo isso aqui na zona oeste onde moro com muita tristeza; Campo Grande está se tornando uma selva de concreto a passos largos.
    Se eu não estou enganada existe uma legislação que preve a reposição das árvores arrancadas, masnão se ve ninguem fazendo isso.
    O mais engraçado é que a grande imprensa não estabelece qualquer relação entre esse aumento absurdo na temperatura é o desmatamento.
    Existem uma Secretaria Estadual e Municipal de Meio Ambiente que em tese deveriam regular e fiscalizar esta questão, mas estão fazendo o que? No estado ainda é o Minc? No municipio é quem?

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  2. Pois na minha rua, em Jacarepaguá; o vizinho furou o tronco e enfiou um pedaço de madeira, bem profundo, para matar a árvore e depois cortar. Eu entrei em contato com vários órgãos do governo; fiz a denúncia; isso já tem mais de 1 ano, nada foi feito. Haja descaso, ninguém se interessou em proteger a pobre árvore, somente eu. não sei se a mesma ainda existe, em breve vou lá conferir. Graça

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  3. Putz, não tinham outro lugar para construir esse restaurante? Ou já foi feito de caso pensado? "Construímos o restaurante sem derrubar a árvore para ficar bem na mídia e depois de um tempo damos uma canetada e conseguimos derrubá-la".
    Quanto a ser crime ou não cortar árvore, é crime sim, mas na hora de se fazer cumprir a lei, parece que primeiro olham quem cortou a árvore.

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  4. Ta certo que o impacto de se derrubar uma arvora eh grande, mas nao podemos esquecer que a mangueira eh uma especie exotica originaria da Asia e que onde a mesma foi usada para enfeitar a cidade, como em Belem, hoje nao se pode nem estacionar na cidade, pelo risco de tomar uma mangada. Dificuldade enorme tambem foi enfrentada na Floresta da Tijuca, quando se tentou acabar com as jaqueiras, tambem exoticas, para favorecer as especies nativas. Da mesma forma ja vi pessoas abracando eucaliptos para impedir o corte, quando se sabe aue estas especies competem com as nativas e nada nasce embaixo delas. Enfim, um pouco de planejamento urbano diminuiria o drama.

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    1. KKKKKKKKKK, por essa tua linha de raciocinio vc tambem é uma "ESPECIE EXOTICA" importada sei lá de onde e que portanto nao pertencendo a esta terra deveria ser daqui eliminado... Claro que a ausencia do planejamento urbano no qual vivemos é um absurdo, só nao da é pra justificar essa covardia que é o massacre da moto serra, que vai terminar (já esta) cortando os nossos proprios pulmões e vidas tambem

      Torelly




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    2. Em algum momento eu defendi a moto serra??? Aliás se tem uma coisa que eu não gosto é "serra" rsrsrs. O que eu defendo, e inclusive, você concordou comigo, é um maior cuidado na escolha de espécies nativas ou exóticas para o uso em paisagismo (planejamento). As vezes no afã de defender seus posicionamentos as pessoas esquecem de refletir um pouco sobre o que vai dizer e comete erros crassos, como por exemplo considerar que exista mais de uma espécie humana, quando em qualquer definição de espécie todo mundo sabe que só existe uma.

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    3. "tentaram acabar com as jaqueiras", "em Belem nao se pode nem estacionar pelo risco das mangadas", pessoas segundo vc erroneamente "abraçando eucaliptos". A sua apologia a derrubada (moto serra) dessas arvores fica bem clara. E nao considerei q exista mais de uma especie humana, fiz uma analogia ao seu raciocinio inicial. Pois, -especie- é um termo q permite muitas generalizaçoes...
      Tanto q existe essa especie de pessoa, que diz e depois se desdiz

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    4. Meu caro, eu considero em meus textos apenas fatos e o conhecimento científico. As elocubrações eu deixo para os sensacionalistas de plantão. Quem escreve um texto tem absoluta responsabilidade pelo seu conteúdo, portanto, quanto mais crível ele for melhores serão as interpretações. Mas, apesar de tudo, acredito que todos tem o direito, inclusive, de se agarrar aos eucaliptos, mesmo que o ato seja equivocado e inócuo.

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    5. KKKKKKKKKKKKKKK, AULAS DE PEDANTISMO FUNCIONAM MESMO. E FALANDO EM ELOCUBRAÇOES, VC VAI BEM...?

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    6. "Falar alto" nao adianta muito se o discurso eh vazio...

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  5. Sao coisas da idade mesmo...

    Mais uma mangueira caida...

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  6. Aqui na minha rua um "ilustre" morador resolveu matar 2 árvores em frente a sua casa, imediatamente choveu ligações para a prefeitura, vieram aqui e pegaram ele com a mão na botija.
    Resultado, levou uma merecida multa !!

    Constantemente vejo a prefeitura dizimando árvores, uma vez parei para reclamar, eles alegaram que cumpriam "ordens superiores".
    Lamentável !!

    Cury

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  7. Hoje vendo o que a prefeitura fez com as árvores, Gonçalves Dias cantaria:

    Minha terra tinha palmeiras, onde cantava o sabiá.

    Cury

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  8. Em frente ao meu trabalho,um sujeito comprou uma casa e,ato contínuo,cismou com um Flamboyant diante da dita casa,o que o cidadão fez? Tacou óleo diesel no pé da árvore,até matá-la. A Duzentos metros dali,um camarada achou muito bonito o gesto do outro e meteu a motossera em um Ipê (!),com o argumento de que "sujava a calçada da casa dele" (!!)Em Niterói,o Prefeito botou abaixo um sem número de árvores para fazer o corredor viário da Alameda São Boaventura,deixando a via desfigurada.Os moradores bem que protestaram,mas não deu em nada,mais de um ano após a inauguração do tal corredor,transformando em um inferno o trânsito de quem usa a via,tanto vindo do Rio quanto pra quem vai p lá.Chega a ser surpreendente a capacidade do ser humano para cismar com as coisas que não lhe fazem absolutamente mal. Pelo menos as mangueiras que plantei com meu pai ainda estão lá. Pelo menos por enquanto...

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  9. Já tentei evitar que um vizinho matasse duas árvores lindas que havia na nossa calçada liguei várias vezes para os órgãos (in)competentes e não deu em nada: o sujeito conseguiu matar as duas e ficou por isso mesmo. E o vizimnho da frente também conseguiu matar a que havia na calçada dele, e ainda dizimou um flamboyant lindo que enfeitava o próprio jardim... o ser humano, às vezes, é um tremendo de um imbecil. Cadê a prefeitura?????

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  10. Mauro Pires de Amorim.
    Não lembro o nome do filme, mas era um filme norte-americano sobre adolescentes/jovens adultos no último ano do ensino médio, idade em que estavam deixando a escola e partindo para vida adulta ou para entrarem na universidade. No entanto, a maioria dos(as) personagens só pensava em futilidades tais como, roupas de marca, festas, carrões e drogas. Algo bem comum na franca maioria das pessoas em nosso mundo, sejam adolescentes ingressando na idade adulta, na faixa dos 17/18 anos, portanto, jovens adultos, sejam jovens adultos na faixa etária até os 25/26 anos e mesmo após tal faixa etária. Resumindo, a maioria das pessoas quer prolongar a juventude ao máximo e chegam ao ponto ridículo e idiossincrático de retardar a evolução e maturação mental, para continuar garotão e garotona o máximo tempo possível e alguns, pendem a noção e acabam virando encarquilhados e encarquilhadas e pior, idosos e idosas, com mentalidade e comportamento de adolescentes fúteis.
    De maneira alguma estou criticando que a pessoa cuide da saúde e tenha aparência física jovial, saudável, mas é preciso se evoluir e maturar o cérebro. Essa mentalidade de achar que estagnando a maturação, evolução mental e que, consequentemente, com isso conseguirá manter-se tchutchuco e tchutchuca, menino e menina, pelo resto da vida, é idéia de penico na cabeça.
    A vida adulta diferencia-se da vida pré-adulta pelo fator da maturidade e na vida adulta, assim como em seu preparo para tal, já na faixa da passagem do final da adolescência, é preciso se estar maduro para entender que cada vez mais, durante a vida adulta, será preciso se fazer escolhas de prioridades e com isso, abrir-se mão de certas outras atividades, afinal, o dia continuará a ter 24 hs do mesmo jeito e com isso, será preciso mensurar as prioridades ao longo desse tempo.
    Assim como no filme de qualidade razoável que mencionei no início de meu comentário e onde, até mesmo o personagem do adolescente/jovem adulto menos penico na cabeça, relativamente comparando-se com os outros, mas que, por ser bom aluno e mesmo sem a necessidade financeira, vez que, possuía excelente padrão de vida, vendia trabalhos finais ou colas para os(as) colegas de escola, sendo com isso, um ghost rider deles(as) e estes(as), que os compravam, sequer se davam ao trabalho de ler os trabalhos finais ou colas, alegando não terem conseguido aprender a matéria ou gostarem de estudar. O desfecho de todos os(as) personagens de tal filme é trágico.
    Pois bem, relativamente ao seu texto, concordo plenamente contigo, mas assim como no filme que mencionei, nosso mundo está caminhando cada vez mais para a tragédia, para a fatalidade em função do mesmo tipo de mentalidade e com isso, cada vez mais, o que era mediocridade ontem, vira excelência hoje, se comparado com ontem, mas a questão etimológica dos termos mediocridade e excelência, precisa ser vista e analisada historicamente, não apenas no aspecto cronológico, mas no sentido de evolução histórico-social de uma sociedade, de um mundo e nossa sociedade, contenta-se em estagnar e até mesmo involuir, pois o que importa é a aparência externa de sucesso, a propaganda de sucesso, ainda que seja obtida pelo mercenarismo de um(a) ghost rider e a síntese do marqueting do sucesso é o dinheiro, ou a ostentação de possui-lo.
    Para quê estudar, evoluir e maturar o cérebro, se posso comprar isso, pagando alguém que se esforce por mim? Idiossincrático, pois evoluir, maturar o cérebro é algo personalíssimo, algo que só a própria pessoa pode fazer. Nada mais elementar, mas que, mentalidade de penico na cabeça que vive no mundo da canalhice, propaganda enganosa sequer cogita, percebe.
    Por isso, para cada árvore que você mostrou que foi derrubada ou que está em vias de ser, somente daquí o mesmo número de anos cronológicos que elas tem de idade, tão logo outra seja replantada no lugar, é que teremos outra similar, mas a mesma, jamais, pois cada ser é edição única, com isso, edição limitada em sua existência, individualidade, particularidade.
    Felicidades e boas energias.

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    1. Mauro Pires de Amorim.
      Cometí erro de grafia na língua inglêsa, referente à palavra "ghost writer", que no meu comentário acima, grafei erroneamente como "ghost rider" e que escrevo duas vezês. A 1ª vez, no 4º parágrafo, na 6ª linha e a 2ª vez, no 5º parágrafo, na 10ª linha.
      Portanto, minha intenção era escrever, "escritor fantasma", "autor fantasma" e não "condutor fantasma" ou "piloto fantasma".
      Felicidades e boas energias.

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  11. Oi Marcelo,como vai?

    Pois é!
    Suas fotos, sempre tão lindas.
    Hoje bateu uma tristeza com aquela sequência do fim da vida da árvore.
    Pra onde o homem está caminhando, né Marcelo?
    Essa falta de respeito pela vida, em todos os níveis, é de lascar.
    Mas a gente não pode deixar de se indignar. Enquanto houver indignação há esperança. É sinal de que a gente não banalizou a vida.
    Outro dia, eu estava tirando fotos de um arbusto de flores, encantada(tirei muitas fotos) e me percebi meio escondida, pra não ser vista, pra não parecer boba.
    Ih! acho que vou parar, estou ficando meio "inspirada".

    Que bom poder contar com a sua escrita, com o seu olhar sobre o cotidiano e com seus "alertas".

    Beijos,
    Sandra

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    1. Não pare de fotografar, Sandra, não ligue para os outros, beijos

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  12. Esse papo de árvore nativa também foi usado em Macaé pra derrubar amendoeiras centenárias. Do jeito que está o planeta, derrubar qualquer árvore é burrice. Além do mais, somos um país miscigenado em todos os sentidos. Não acredito que plantinhas de outros lugares possam causar tanto mal, já que se adaptaram bem ao nosso país. Concluindo, locais com projetos modernosos que não tenham árvores e sombras está fadado ao vazio. Quem vai descansar ou se divertir nessas áreas?

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  13. Quer dizer que miscigenacao eh o mesmo que misturar especies, que projetos paisagisticos so podem ser bons se incluir especies frutiferas e/ou nao nativas e que estaremos sendo burros caso derrubemos uma arvore cujas raizes ameacam derrubar uma casa? Dessa forma precisamos rever com urgencia conceitos como hibridizacao, de planejamento urbano, ou mesmo de defesa civil.

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  14. Nossa marcelo. Somos almas gemeas, hehehe. No livro que eu escrevi, eu descrevo o meu sofrimento pela morte de uma arvore. Entendo vc 100%. Concordo com a Sandra, suas fotos sao lindas. Bjks aqui do Texas onde no meio dos 'contrarios' estou comemorando a derrota do Romney(Nila)

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