O goleiro e o astronauta

Morreu um dos heróis da minha infância, o ex-goleiro Félix, do Fluminense e da seleção brasileira campeã da Copa de 1970. Logo depois, morreu outro, o astronauta Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua. Ambos coloriram meu imaginário infantil.

Félix era o goleiro do meu time e, nas peladas na pracinha, quando eu resolvia jogar de goleiro, para insegurança e até desespero de meus companheiros de time, era o nome dele que eu gritava quando conseguia evitar um gol do adversário. Baixo para a posição (tinha só 1,79), Félix compensava isso com boa colocação e elasticidade.



Ficou tristemente marcado pelos gols que tomou na Copa de 1970, mas não era um frangueiro como alguns insistiram em estigmatizá-lo. Nas entrevistas, até recentemente, não conseguia disfarçar a mágoa que sentia pelas críticas que sofreu na seleção brasileira. Costumava atuar especialmente bem no Fla-Flu. Para mim, ele sempre foi o máximo. No Maracanã, já em 1975, eu ficava de binóculo observando-o, os detalhes da roupa quase sempre preta, a costeleta indefectível. Uma vez, cheguei a inventar na escola que o havia visto pessoalmente e falado com ele, tal era a minha admiração. Mais tarde, o vi de verdade na Praia Vermelha, com a família, no fim de uma tarde de domingo. Não tive coragem de tietar.

Taí, acho que Félix foi o meu primeiro ídolo, justamente na época em que o homem chegou a Lua. Em 1969, só se falava em Apolo 11, a nave que levou três astronautas a 340 mil quilômetros de distância e num lugar onde nem oxigênio há. Para mim, foi o feito mais fantástico da história do ser humano, não só por ir até lá como também por voltar. Neil Armstrong, que também morreu nesta semana, foi o primeiro a pisar no solo lunar.

No dia seguinte, lembro que a professora Raquel, do pré-primário do Instituto Souza Leão comentou com as crianças a incrível façanha, transmitida via satélite. Ela ressaltou que, antes de descer de fato do módulo lunar, o astronauta sentiu a superfície para ver se ela não afundaria.

Eu vi na TV o foguete se afastando da Terra com aquele rastro de fogo e fiquei fascinado aos seis anos de idade.

E, no dia em que a Raquel fez os alunos sentarem no chão em roda para perguntar a cada um o que queria ser quando crescesse, eu disse que seria astronauta.

De certa forma cumpri a promessa, porque, até hoje, eu vivo no mundo da Lua.

Comentários

  1. Pois é meu caro Marcelo, dois grandes homens da nossa história recente, apesar de ser alvinegro, eu sempre admirei o Félix o nosso nobre esporte bretão ficou mais triste. Já o fantástico Neil será sempre lembrado, ambos deram voos incrível e engrandeceram a humanidade.

    forte abraço

    c@urosa

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  2. Mauro Pires de Amorim.
    Embora eu seja Rubro-Negro, nunca deixei de ter admiração pelos exemplares atletas, ainda que fossem adversários. Esse meu respeito sempre me foi ensinado por meu pai, também Rubro-Negro e falecido recentemente em 02 de agosto último e fortaleceu em 1981, quando entrei para a Escola de Remo do C.R.Flamengo, pois o clima de camaradagem imperava entre nós Rubro-Negros e os demais praticantes do remo dos outros clubes na Lagoa Rodrigo de Freitas. Tanto, que, bastava qualquer colega remador, principalmente os mais inexperientes das escolas de remo terem alguma problema ou acidente, algo comum nos barcos individuais do tipo esquife ou canóis, por serem embarcações leves e portanto mais facilmente sujeitas a desequilíbrios no caso de alguma diferença técnica na remada do lado boreste ou bombordo (esquerdo ou direito) da embarcação, o que, invariavelmente, provocava o emborcamento ou virada da embarcação e consequentemente, colocando o remador na água, com os pés atrelados nas pedaleiras ou bases para a movimentação do carrinho com as pernas e controle do leme da embarcação, no caso do esquife.
    Portanto, lembro-me perfeitamente do goleiro Tricolor, Félix, que na minha infância e pré-adolescência Rubro-Negra, sempre era uma barreira a mais a ser vencida nas partidas entre os dois clubes. Inclusive, se não me falha a memória, Félix fez parte do time, conhecido como "A Máquina Tricolor", nos anos setenta, juntamente com Gérson, Rivelino, Marco Antônio, Cafuringa e outros.
    Neil Alden Armstrong e seus companheiros de jornada lunar, Edwin Eugene "Buzz" Aldrin Jr e Michael Collins, tendo esse último, permanecido em órbita lunar, no Módulo de Comando e Serviço, até que o Módulo Lunar reaclopasse de volta da superfície lunar, 15 horas depois e pudessem então retornar à Terra, 8 dias depois, no Norte do Oceano Pacífico, do Foguete Saturno V com 2.800.000 kg ter sido lançado da Flórida, EUA (16 de julho a 24 de julho de 1969).
    Felicidades e boas energias.

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  3. Goleiro eh mesmo o mais lembrado no caso dos insucessos. Tai o Barbosa que nao nos deixa mentir. O Felix mesmo sendo campeao teve que aguentar essas criticas ao meu ver exageradas. Uma pena que a torcida Young Flu tenha varios de seus integrantes presos por agressao a vascainos em um momento que devia ser de boas lembrancas. Isso so confirma que a violencia de torcidas atinge a todos os clubes, infelizmente.

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  4. Conversei com o Félix em 1974, na Praia Vermelha. Eles estava acompanhado das filhas e sentado em um banco da Praça General Tibúrcio, perto do "campo" de areia "batida" onde costumava jogar bola. Falei com ele, mas não pedi autógrafo porque, obviamente, não tinha papel e caneta. O Félix também. Aliás, o ano de 1974 poderia dizer que foi um ano de sorte no se trata ao futebol. A Seleção Brasileira se preparou durante dois ou três meses na Escola de Educação Física do Exército. Eu também jogava bola lá com a molecada. Para minha surpresa, antes de chegar no campo de futebol, todos os jogadores da Seleção estavam em frente ao ginásio, de uniforme, a caráter, para tirar fotos. Fiquei olhando aqueles craques embevecido, encantado. Se eu me lembro bem, um dos membros da comissão técnica me chamou e aos meus amigos para se juntar aos craques, pedido que rapidamente atendemos. Um dia estou olhando a revista Manchete e, para a minha surpresa, apareço em uma foto de destaque ao junto com todos os jogadores da Seleção Brasileira. Recortei a foto e a guardei. Muitos anos depois fui procurar a foto nas caixas de fotografias que a minha mãe guarda talvez como prova que o tempo para nós, seres humanos, é real, e que temos passado e história. É a memória congelada em partes, em segundos. Depois fui ver o treinamento deles. Rivelino, Jairzinho, PC Caju, Paulo César Carpegiani, Zé Maria, Nelinho, Marinho Bruxa, Leão, Luís Pereira, Clodoaldo(cortado), Enéas(cortado), Dirceu, Alfredo, Valdomiro, Marinho(o beque), Leivinha, Marco Antônio, César(Palmeiras), Edu(Santos), Mirandinha(São Paulo) e Ademir da Guia, que, se eu me lembro, esse maravilhoso craque jogou meio tempo. Bem, o tempo passou, e fica em minha lembrança de menino o quanto e o porquê amo o futebol.

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  5. Na minha infância morei sucessivamente na rua Álvaro Chaves, Soares Cabral e rua Coelho Neto. Disso resultou que era sócio do eterno FFC e, por isso, quando podia, vagabundava no clube assistindo a maior quantidade de treinos possíveis. Falo isso para dizer que um dos jogadores mais simpáticos e carinhosos com a criançada era o Félix. Ser humano de primeira categoria. Via-se que a atenção e carinho com as crianças era uma atitude natural e sincera. E aqui esclareço que tinha muito jogador filho duma égua, antipático, babaca...etc (não era pouco não!!!!). Lembro para sempre do Félix e quando falam mal dele sou um dos primeiros a defendê-lo.
    p.s. tb. estudei no ISL. De 73 a 77. Primeiro ao lado do Parque Lage e no final na ladeira da humaitá.

    Como entrei na 4a. série não tive aula com essa Professora. Acho (não tenho certeza) que meu irmão pode ter sido aluno dela, pois fez o pré no ISL. Mas pelo que ouvi de seus alunos trata-se de outro ser humano diferenciado, uma pessoa iluminada que dedicou tudo aos seus alunos e à educação.

    Félix e Prof. Raquel dois bons exemplos que devemos perseguir.

    cláudio pinto

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    1. Você teve aula com a Carmem, foi minha professora na quarta série. Na quinta, lembro do Padilha, de Geografia, e da Teresinha, de matemática, que morreu no parto durante o ano letivo, foi um trauma na escola. Tinha também o carpinteiro, seu Shimit, lembra? Qual a sua idade, Claudio?

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    2. Deixo aqui o meu agradecimento a todos que falaram do meu pai FELIX!! Realmente um super ídolo, pra mim o melhor goleiro da geração dele mesmo!!! Sem dúvida nenhuma deixou isto escrito na calçada do museu do futebol e do Maraca. E mais ainda, com certeza, como disse ai o anônimo...meu pai sempre foi D+ com as pessoas, sempre com sorriso no rosto, verdade na fala e com uma estrela de amor pro mundo todo. Faz muita, muita, muita falta em nossas vidas!!! Só posso agradecer a Deus por ter me dado um pai assim tão amoroso, digno, honesto e pra mim...quase perfeito.
      Patricia Rinaldi Venerando Soares.

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    3. Patrícia, que alegria essa homenagem ter chegado até você. Um grande abraço e parabéns pelo seu pai.

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    4. Obrigada Marcelo, visite a fan page dele FELIX MIELLI VENERANDO no facebook, Bjuuuu

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    5. Claudio Pinto, Obrigada pelas defesas e o carinho com Meu pai. Realmente essa atenção, carinho e humildade eram atitudes natas no.meu maior ídolo. Rsrsrs bju

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  6. Lembro. Tenho 50. Mas estava atrasado um ano. Entrei na 4a. série, em 1973. O de Geografia não lembro se era Padilha o seu nome, apelidava as provas finais....Brasileirão na 7a e Mundo Cão na 8a. Matéria acumulada...horror dos estudantes. hehehehe.

    De todos os professores a que mais me marcou, positivamente, foi a Profa. Neli, de Português. Melhor professora que tive, como ser humano, ao longo de 1o e 2o graus, 2 faculdades e 1 pós. Poderia ter ensinado mais gramática.....mas no ISL regras não eram o mais importante....

    Era um colégio especial....teatro, calendário, quantidade de malucos. Percebi quando, mundando para Brasília, fui fazer o 2o grau em um colégio bem tradicional, católico.....Imagine o choque cultural.

    Mas, sem muito saudosismo, aqueles eram (verdadeiramente ) outros tempos. De superação, quebra de tradições, mudanças, novos enfoques, experimentalismo. ]

    Interessante que em plena Ditadura houvesse tanto espaço para a liberdade dos filhos de uma "elite".

    Hoje, em um Estado Democrático de Direito, paradoxalmete as escolas retrocederam muito.

    Constatei na educação dos meus 3 filhos.

    A preocupação é somente com conteúdo, fazer avaliações, ENEN, PAS, vestibular etc.

    E o pior é que são os pais que mais cobram e dirigem a educação para essa idiotice. Se o colégio não massacra, não envereda por essa agenda o resultado é que os pais tiram os filhos...

    No FACEBOOK, no grupo do ISL, a Prof. Raquel escreveu que o que mais gostava de fazer eram os passeios com as crianças para BRINCAR....Só isso: BRINCAR...

    Foi uma senhora escola...Taí....mais uma que a globalização matou.

    Um abraço e parabéns pelos seus textos.

    cláudio pinto

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    1. Tive aula com a Neli também, na quinta série (1975). Lembro que ela, mesmo grávida, fumava um cigarro atrás do outro enquanto dava aula. Naquele tempo, professores podiam fumar durante a aula, mas aquilo me chocava.

      Eta um colégio sensacional. A Raquel também estava grávida quando foi minha professora, no pré-primário, acho quem em 1969.

      Também constatei essa triste mudança nos colégios e na educaçãõ. Hoje se educa para ganhar dinheiro custe o que custar.

      Sorte dos nossos filhos que vivemos aqueles tempos e podemos passar algo de mais humano para eles.

      Abraço

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  7. Memória boa.
    Vi o goleiro Felix numa tv instalada no pátio da Igreja da vila em que morava, em Toledo. Sabíamos os nomes de todos os jogadores da seleção Brasileira. Depois,ou antes, não lembro direito, vi a chegada dos astronautas na lua, também numa TV preto e branco que meu irmão mais velho tinha comprado. Uma viagem!

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  8. Memória boa.
    Vi o goleiro Felix numa tv instalada no pátio da Igreja da vila em que morava, em Toledo. Sabíamos os nomes de todos os jogadores da seleção Brasileira. Depois,ou antes, não lembro direito, vi a chegada dos astronautas na lua, também numa TV preto e branco que meu irmão mais velho tinha comprado. Uma viagem!

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