Um domingo no Engenhão

Estádio Engenhão/Foto: Marcelo Migliaccio


Para quem já esteve em jogos no Maracanã com 155 mil pessoas, um público pagante de 23 mil num clássico decisivo é ridículo. Mas, para os dias de hoje, com transmissão ao vivo na TV aberta, posso dizer que o Engenhão estava cheio. E não há prazer maior do que ver seu time vencer uma partida importante, contra um rival local, de goleada, com gol de bicicleta e o escambáu.

Depois de muito tempo, desisti de ficar sentado no trono do apartamento, com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a transmissão começar na TV. Peguei o metrô e depois o trem da Central para ver Fluminense e Botafogo no distante subúrbio do Engenho de Dentro.

No trem, os poucos trabalhadores agraciados com um expediente naquele lindo domingo de sol, olhavam curiosos para aquele monte de mauricinhos e patricinhas que nunca enfrentam as torturas impostas pela Supervia aos usuários habituais do transporte ferroviário.


Torcedores no trem da Supervia/Foto: Marcelo Migliaccio

Vendedores ambulantes anunciavam sem parar suas mercadorias: cerveja, refrigerantes e salgadinhos acondicionados em pesadas mochilas, carregadas também por mulheres sofridas, defendendo ali naquele calorão, em pleno dia universal do descanso, o pão de cada dia.


Garoto no trem da Supervia/Foto: Marcelo Migliaccio

Dentro do estádio, só classe média. Um cachorro frio e um refrigerante quente por R$ 10! Quem tem três filhos precisa pedir empréstimo no banco para levar a família ao futebol...

Do jogo, não preciso falar. Quem viu, viu a goleada acachapante que a Unimed Football Club deu no Guarativon de Futebol e Regatas. Ah, as marcas de fantasia? Fluminense e Botafogo. Cem anos de história por trás da publicidade.

Além do mais, acho que a maioria dos leitores deste blog não liga para futebol.

Saí feliz do estádio.

Apesar de tudo que fizeram e fazem com o esporte mais popular do planeta para extrair dele a maior quantidade possível de dinheiro, quando a bola começa a rolar aleatoriamente nos gramados, domada apenas pelos craques que sabem fazê-la submissa, toda a magia lúdica renasce das cinzas.

Isso, o futebol é uma Fênix estuprada e corrompida que, todos os domingos, num campo de terra esburacado ou no lindo estádio do Engenhão, revive para despertar os garotos de 12 anos que ainda dormem dentro de nós.


Torcida do Fluminense no Engenhão/Foto: Marcelo Migliaccio



Comentários

  1. "Unimed Football Club deu no Guarativon de Futebol e Regatas" - Exatamente como eu vejo!!!!

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  2. Tive inveja de você e de todos os outros tricolores que puderam assistir, ao vivo e a cores, a goleada sobre o Botafogo. Enquanto vocês se deliciavam com o esporte, eu me deliciava com a política na França. Disputa entre Sarkozy e Hollande deve foi bastante emociante, mas infelizmente não houve goleada de Hollande. Resultado final bem apertado, diferente do jogo do Flu.
    EM junho, colocarei meus pés no Engenhão novamente. E sem aperto de trem da Supervia, irei a pé mesmo.
    Bjs!

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  3. Eu até entendo essa euforia de uma vitória que deixou o Fluminense com a mão na taça. mas já vi situações no futebol que surpreenderam a todos.
    Vai com calma, que ainda falta um jogo !!! rsrs

    Cury

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  4. Garanto que o Nelson Rodrigues iria gostar de ler suas crônicas de futebol. Ele riria, por exemplo, do verdadeiro nome dos times...

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  5. marcelo,

    apesar das unimeds da vida,dos dirigentes,quando vejo aquelas três cores que traduzes tradição adentrar o gramado,volto a ser criança.saudações tricolores!!roberto lima.

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  6. O termo mauricinhos e patricinhas caem como uma para torcida do Fluminense .Mmal sabem onde fica o Engenhão!!

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    1. Tenho a ligeira impressão de que esse anônimo é botafoguense...

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  7. Torcedor do America, com filho único, tricolor, vibro sinceramente, com as conquistas do Flu. Ótimo elenco, técnico inteligente e agora, menos ansioso, o time conquistará outros títulos, creio.

    Antonio Carlos

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    1. Para salvar meu Mequinha da extinção, só milagre divino, mesmo. Fazer o que? Amo esse clube-time desde sempre.

      Antonio Carlos

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  8. Não adianta vir com Guaraviton pra mim. É Coca-Cola que eu quero beber...

    O corte de cabelo lembra alguém do futebol, mas o prazer da bebida, o slogan do fast-food que nunca estampou a camisa de nenhum clube carioca. "Gostoso como a vida deve ser."

    O pequeno, tão quietinho e concentrado, nem ai pra quem o observa, nem para as sacudidelas do trem. Melhor que a tubaína de cola, só aquela soneca boa no colinho da mamãe.

    Do futebol, por ora, sabe pouco, enamorando, ainda desconhece o que uma verdadeira paixão é capaz de fazer. Como, por exemplo, garantir o bom humor semana inteira, como bem observou uma colega de trabalho.

    Segunda-Feira, ela toda sorridente comenta:

    - ah, bem que o Fluminense podia ganhar todas as partidas sempre.

    Ai, o colega tricolor, rebate:

    - Ué, mas tu não é Flamengo?

    - Sou, mas meu marido é tricolor, e ontem ele chegou em casa todo feliz. Essa semana eu sei que vou ter paz!

    Outro exemplo.

    A gente manda um torpedo pro marido, que tá lá no meio da torcida, parabenizando pela faixa de campeão antecipado... e segundos depois, ele responde:

    tá muito legal!!!

    Feliz por ele. Mas por um momento tive dúvida se a mensagem não tinha sido recebida por um infante tricolor.

    Agora sei que não errei.

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  9. é isso mesmo gostar de futebol é infantilidade. ele já morreu há muito tempo. só os negócios é que continuam.

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  10. Como é bom riir do flamengo,e logo,logo eu vou rir do fluminense kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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