O doce sabor da derrota

Tricolores no trem/Foto: Marcelo Migliaccio

Nunca pensei que veria um trem da Central lotado só de tricolores. Normalmente, quem lota trem é o Flamengo, que, aliás, lota tudo. Tanto que, todo dia, os jornalistas esportivos inventam uma crise no rubro-negro. Dá Ibope!

Mas, voltando ao trem tricolor, espremido ali naquele vagão pensei nos trabalhadores que diariamente sofrem com a superlotação. Nós, torcedores da Zona Sul, íamos para um jogo. Duro é passar aquele aperto para ir trabalhar...

Para torcer na competição mais importante das Américas, vale qualquer sacrifício, inclusive penar numa lata de sardinha.

Na primeira infância, casamos com um time que nos acompanhará para sempre. É um amor incondicional, na saúde e na doença, como diz o padre aos casais apaixonados. E o futebol é o único espetáculo artístico em que o público chega sem saber se assistirá a uma comédia ou a um drama. É uma noite de amor que, ao final dos 90 minutos, pode acabar num orgasmo fantástico ou numa frustrante brochada. Mas estamos sempre lá, entre tapas e beijos naquele amor sem vergonha.

Flu x Boca/Foto: Marcelo Migliaccio

Quinta-feira passada, no Engenhão, foi encenada uma verdadeira tragédia grega. Levar um gol decisivo no último minuto é duro. Logo eu, que já vi o Fluminense ser campeão várias vezes no apagar das luzes, dessa vez provei do nosso próprio veneno. Na volta, no trem apinhado de gente cabisbaixa, cada um elegia seu culpado pela decepção. O técnico, o zagueiro, o juiz, o goleiro, os argentinos, o governador, o Carlinhos Cachoeira... Sobrava lamentação no vagão.

Cascudo em matéria de futebol, não fico triste por mais de dez minutos. Aquilo é diversão, é esporte, é fantasia. O importante é estar lá, viver as emoções até o apito final. O importante é viver, afinal.

Há muito tempo, percebi que as derrotas no futebol são saborosíssimas, enobrecem, revigoram. Além de tornarem as vitórias mais emocionantes e valiosas, os infortúnios do nosso time só aumentam nossa paixão por ele. É um casamento, lembra? E amor é para rir e chorar junto. Todos os clubes grandes do Brasil que caíram para a segunda divisão foram campeões de público nos estádios. É na pior hora que a torcida pega seu time no colo, joga junto, levanta os ânimos, sente-se responsável por aquela instituição e mais importante até que os jogadores.

As vitórias arregimentam novos pequenos torcedores, mas são as derrotas que vão sedimentar a paixão e mante-los fiéis àquelas cores pelo resto da vida.

No jogo entre Fluminense e Boca Juniors, até os jogadores, que há muito perderam a identificação com os clubes, se emocionaram. Num esporte tomado pelos mercenários, ainda há espaço para o sentimento graças à paixão do torcedor. Aquele sentimento infantil do garoto que veste com orgulho, pela primeira vez, a camisa do seu time do coração. Quinta-feira, vi garotos de cabelos brancos, acompanhados dos netos, voltarem no tempo sob bandeiras verde, grená e branco.

Torcida do Flu contra o Boca/Foto: Marcelo Migliaccio

E, na Central do Brasil, a caminho de casa no breu da derrota, ouvi alguém dizer:

_ Tão cedo não volto.

Ma eu sei que um dia volta, porque casamento, pelo menos no futebol, é para sempre.

Tricolores no trem/Foto: Marcelo Migliaccio

Comentários

  1. Como voce bem escreveu: "Há muito tempo, percebi que as derrotas no futebol são saborosíssimas, enobrecem, revigoram" eu te digo que isso eh uma "vantagem" que somente um torcedor do Fluminense pode ter. :-))

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  2. Carta Pública da Marcha da Maconha do ABC ao prefeito de Diadema, Mário Reali

    "(...) Sendo assim, somente podemos responder que seu pedido será educadamente negado, senhor prefeito. (...)"


    http://s.conjur.com.br/dl/carta-publica-marcha-maconha-prefeitura.pdf


    hahahahhahahahhahahahhahuahuahuahauahuakkkkkkkkkhahahahahhaha

    Drum

    PS: huahauhauhauhauhakkkkkkkkhahahahahha

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  3. Como ja disse antes temos coisas em comum como o ano e cidade de nascimento, as tendencias de esquerda, entre outras coisa. Mas na escolha do clube do coracao fui mais feliz!!!
    Saudacoes rubro-negras
    Alexandre Clistenes

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  4. Como diria o marido, falando da comida da esposa: sem sal... Semsalcional!!! Futebol é isso.

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