Raul Seixas: "A onda tá certa"

Com o documentário sobre Raul Seixas, descobri que assisti ao último show que ele fez na vida, em Brasília, em 1989. Foi a única vez que o vi cantando ao vivo e, apesar do estado de saúde já muito debilitado, o mito estava lá, apenas com os óculos escuros a separar os olhos dele dos meus, já que eu estava bem perto do palco. Acho que ele morreu três meses depois daquela noite em que cerca de 5 mil fãs das mais variadas idades e classes sociais ovacionaram o artista genial e sua obra eterna.

O filme é muito bom e tem o mérito de, pela primeira vez, trazer a público declarações das duas primeiras filhas de Raul, já que até então, só Vivian, a terceira, dava entrevistas sobre o pai. Apesar de muitas das imagens já estarem disponíveis no Youtube antes do filme, há revelações como os shows em Saquarema e no Anhembi e cenas do filme satanista Contatos Imediatos do Quarto Graal.

Paulo Coelho, Marcelo Nova, Caetano Veloso, Edy Star e o parceiro mais importante, Claudio Roberto, também dão ótimas entrevistas. Assim como o cover de Raul que perdeu a mulher por insistir em batizar o filho do casal com o nome do ídolo. Ela se foi, mas Raulzinho está lá, ao lado do pai e cantando os hinos deixados para a posteridade.

O processo de autodestruição alcoólica, no entanto, é bastante incômodo, deprimente até. O homem é sempre maior que o mito, que é apenas um resumo de uma vida e uma obra, os melhores momentos do jogo de cena de cada um.

Para mim, uma das melhores passagens do documentário é essa entrevista dada por Raul ainda inteiraço, nos anos 70, quando uma ressaca na praia do Leblon acabou avariando seu carro.

Não se poderia esperar outro tipo de declaração senão a inusitada absolvição da natureza pelos estragos:

_ A onda tá certa.






Veja a entrevista completa e a reportagem sobre a ressaca

Comentários

  1. Filmaço, não só pra quem curte Raul. Minha namorada pouco sabia da vida dele e saiu maravilhada do cinema.

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  2. É sim, um grande documentário sobre um artista visceral, transgressor, inteligente, inquieto (o oposto dos acomodados e conformados e careetas axezeiros, pagodeiros, sertanejos e funqueiros de putaria, essa coisa óbvia , testosterônica e tosca, Raul era a própria metamorfose ambulante.

    Seu destaque é perfeito,afinal, ele sabia que entre a caça e o caçador provisórios, quem vence sempre, é a natureza e suas razões.

    Só por estes versos, do Ouro de Tolo, merece prestígio;
    )...)Ah!
    Eu devia estar sorrindo
    E orgulhoso
    Por ter finalmente vencido na vida
    Mas eu acho isso uma grande piada
    E um tanto quanto perigosa...

    Eu devia estar contente
    Por ter conseguido
    Tudo o que eu quis
    Mas confesso abestalhado
    Que eu estou decepcionado...

    Porque foi tão fácil conseguir
    E agora eu me pergunto "e daí?"
    Eu tenho uma porção
    De coisas grandes prá conquistar
    E eu não posso ficar aí parado...

    Eu devia estar feliz pelo Senhor
    Ter me concedido o domingo
    Prá ir com a família
    No Jardim Zoológico
    Dar pipoca aos macacos...

    Ah!
    Mas que sujeito chato sou eu
    Que não acha nada engraçado
    Macaco, praia, carro
    Jornal, tobogã
    Eu acho tudo isso um saco...

    É você olhar no espelho
    Se sentir
    Um grandessíssimo idiota
    Saber que é humano
    Ridículo, limitado
    Que só usa dez por cento
    De sua cabeça animal...

    E você ainda acredita
    Que é um doutor
    Padre ou policial
    Que está contribuindo
    Com sua parte
    Para o nosso belo
    Quadro social... etc. Nota mil.

    Abraço

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  3. Por mais maluco que fosse,não dava pra não admirar as músicas do Raul,como admiro até hoje. É aquela história de separar o autor da obra. Aliás,pelo que soube certa vez,o maluco mesmo era o Paulo Coelho,que foi quem passou pro Raul toda aquela doideira e misticismo,tão em voga naquela época.Deu no que deu:O vídeo é engraçadíssimo!

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