Cinema mudo no século 21

Vi um filme que me deixou com água nos olhos durante boa parte da projeção. Tudo bem que eu já chorei até com comercial de Natal das Casas Bahia, mas esse filme é bom mesmo.

O artista

Se você, como eu, é do tipo de pessoa que tem preconceito contra produções que concorrem ao Oscar, engula sua empáfia e vá ver esse filme, candidato a dez estatuetas.

O diretor, Michel Hazanavicius, é um cara corajoso.

É um filme mudo! Se tiver meia dúzia de falas em duas horas é muito. Uma ousadia, o que, por si só, já difere a película de tantas baboseiras que já vimos ganhando o prêmio maior do cinema (só falta este ano darem o prêmio de melhor ator ao inexpressivo George Clooney).

O último filme mudo de que me lembro foi feito nos anos 70, A última loucura de Mel Brooks, do qual, por sinal, também gostei muito na época. Recentemente, revendo-o em DVD, lamentei que o ritmo não é mais palatável nos dias de hoje.

Com filmes, é assim: ou você entra na história, ou não entra. O artista prende a atenção, diverte e emociona. Mostra a agonia e a angústia de um astro do cinema mudo diante do advento dos filmes falados. Todo mundo ouve falar que Chaplin não resistiu ao som, mas ele não conheceu a rua da amargura como o protagoniosta desta bela e realista ficção, interpretado com um show de expressão facial e corporal pelo ator Jean Dujardin. Com Bérénice Bejo, ele forma uma dupla que, além de talento, esbanja charme. E tem um cachorrinho que se não levar o prêmio de melhor ator terá sofrido a maior injustiça da história da tela grande.

E o filme ainda têm o ótimo John Goodman, aquele mesmo que, anos atrás, conseguiu a proeza de nos dar um  Fred Flintstone em carne e osso.

É uma história sobre a soberba e sobre como a vida muda num segundo. Aliás, Malcon Mc Dowell, astro de Calígula e Laranja mecânica, faz uma pontinha. Sintomático, emblemático...

Essa nossa crítica de cinema tem vergonha de se emocionar. Acham que jornalista não chora, não tem time de futebol e não se posiciona politicamente. Ou seja, em nome de uma ética de almanaque, meus colegas de profissão se abstêm de viver.

Dá uma olhada no trailler, que, sinceramente, não faz jus ao filme, que é infinitamente mais impressionista.

Comentários

  1. Também assisti e gostei muito, lembrei-me do Chaplin e seus maravilhosos filmes.
    Cury

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  2. Tive o privelégio e o enorme prazer de assistir e fique matutando: como pode um filme preto e branco, mudo, em plena era do império 3D, ser uma obra-prima?. Quanta genialidade e ousadia de Hazanavicius, a de levar o cinema de volta às origens, quando astros e estrelas não emitiam sons, quando as falas, pancadas e rajadas de bala ecoavam apenas no caminho entre a visão e a imaginação. O atrevimento recompensa, pois O Artista não é apenas um OVNI em meio à produção atual, é uma carta de amor ao cinema, este ser intangível constituído de imaginário, fascínio, medo, paixões, desamores, ação, entre outros tantos elementos que se desprendem da tela para nos modificar. Pois se o cinema não nos modifica, bom cinema não é. Saí do filme com a certeza de que ele jamais sairá de mim.

    E não é que os franceses deram mais um olé nos americanos no quesito cinematográfico? Em 1895 os irmãos Lumière fizeram a primeira exibição de um filme na primeira sala de cinema do mundo, claro, na França. Agora, mais de cem anos depois, eles voltam a abalar o Tio Sam, com sua queridinha Hollywood, lançando um longa despretensioso, com um orçamento baixo, mas que está vindo com tudo como azarão na disputa do Oscar 2012..
    Fazendo uma homenagem aos filmes mudos que conquistavam as platéias no auge das produções cinematográficas americanas da década de 20, o diretor Michel Hazanavicius – sim, ele é francês –com direção majestosa, resolveu apostar todas as suas fichas produzindo um filme igual aos da época, ou seja, sem cor, sem som. Apenas com uma trilha sonora e cartelas com diálogos resumidos. E, contrariando muitos conhecidos que achavam que ele estava louco, Michel os fez moderem suas línguas afiadas ao se depararem com (um dos) o melhor(es) filmes do ano , com direto a tudo que um bom telespectador deseja ver: ação, lágrimas, risos e uma chance de se perder em outro mundo, inclusive com um final artisticamente feliz. .Hazanavicius criou algo único e inesquecível(para mim, quase inacreditável!).

    . Dujardin e Bérénice - duas avassaladoras presenças de cena, fazem a diferença e provam que atores não são tão descartáveis quanto o avanço tecnológico pode sugerir.O cão Uggie, que rouba a cena , foi o vencedor do primeiro "Golden Collar" (Coleira de Ouro), premiação criada para reconhecer a excelência canina em Hollywood. Ele também recebeu a "Palm Dog" ("Palma Canina") no Festival de Cannes do ano passado, uma brincadeira com o principal prêmio do evento, a Palma de Ouro. O "Golden Collar" distribuiu prêmios em cinco categorias, incluindo melhor cão em um filme estrangeiro, melhor cão em série de televisão, melhor cão em reality show e melhor cão em filme feito direto para DVD.

    Com certeza, jmuitos executivos estão "queimando a mufunfa" dentro dos estúdios, buscando no fundo da gaveta aquela placa empoeirada , onde se lê: “Menos é mais”. Tenho o cinema francês como o meu predileto, quase sempre, (também o vinho, especialmente o champanhe, o culinária, a literatura, os queijos, os perfumes, a pintura, a filosofia, o chique, o charme, o detalhe, etc.), mas este, especialmente, é um dos dez filmes da minha já longeva rsrs...existência, também pela sua pegada demasiado humana e absolutamente anti-neoliberal..sim, não há concorrência, ao contrário, impera a solidariedade, o bom senso, além do bom gosto... coisas tão jejunas nestes tempos tão mediocrizados/americanizados.

    Abraço
    Marcos Lúcio

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  3. Cury e Marcos, vocês foram precisos nas referências e análises. Abraços

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  4. Uma vez que minha modesta contribuição agradou o talentoso blogueiro_ que bom!_ sugiro, então, pequenos acertos nas apressadas digitações, nesta ordem: PRIVILÉGIO; FIQUEI; não existe ponto depois da interrogação; DIREITO; não existe ponto antes de DUJARDIN; EM CENA; não existe jota antes de muitos; A CULINÁRIA, e outros menos evidentes, se houver..."je suis désolé".

    Aproveito para acrescentar às minhas paixões francesas, (para provocar os alienados e colonizados pelo imperialismo norteamericano e neoliberal kkk) , a História da França, com seus emblemáticos e míticos personagens, além do capricho da "haute couture" , da beleza da língua e da Catherine Deneuve, da B. Bardot- a mais sexy das atrizes (e outras tantas...), dos museus, da emoção única ao ouvir Piaf e Aznavour (e outros tantos...),do can-can, do escargot, dos crepes e outros francesismos...e, obviamente Paris, com sua fabulosa e inigualável arquitetura (Corbusier, Eiffel, Haussmann, etc.), que não só é a cidade Luz, como a vedete das cidades, que encanta não somente o Woody Allen... "moi aussi". Lembro-me, sempre, da minha escritora preferida_ Clarice Lispector_ que dizia: PARIS É IMEDIATAMENTE PARIS.

    Logicamente que sou mais Brasil, Rio, samba, chorinho, vatapá, caipirinha, guaraná, etc., sobretudo, e...apesar dos muiiiiiiiitos pesares.
    Quanto aos equívocos , injustiças e maluquices, principalmente as sarkozianas rsrs,,,deixo prá outra hora.

    Abração e bom carná, se curtir, ou bom descanso, ou bom proveito nos feriados momescos.
    Abração
    Marcos Lúcio

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  5. Marcelo, vc não viu "O Baile" de Ettore Scola? É um filme totalmente mudo fito nos anos 80, lembro que vi em 88. Estes dois filmes (O Artista e O Baile) são simplesmente sensacionais. No "O Artista", corroboro o seu destaque para os dois protagonistas e John Goodman. Para mim, o bom deste filme é que me fz imaginar os diálogos, que não precisaram existir para dar todo o seu recado. Nopta 10 para este filme.
    Sds

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    1. É verdade, Silvio, tinha me esquecido de O Baile, mas gostei bem mais de O Artista. Abraço

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  6. Marcelo, achei O Artista um exercício de metalinguagem sensacional, além de ser emocionante do começo ao fim. O que mais me impressiona, no entanto, não é a homenagem ao cinema mudo nem a qualidade da história. São excelentes, isso é indiscutível. Mas o que mais admirei em O Artista é como o filme consegue contar uma história puramente através de imagens, e não com o bombardeio de estímulos sensoriais dos filmes repletos de efeitos especiais ou a cafonice de alguns roteiros de Hollywood.

    Cada tomada do filme exala um duplo sentido, um cuidado enorme que não se vê mais nos filmes de hoje. É a imagem dos três macacos sábios ao fundo enquanto o protagonista recebe a notícia da quebra da bolsa, a mocinha que cuida dele a distância passando em frente a um cinema que anuncia em cartaz o filme "The Guardian Angel" (O anjo da guarda) e por aí vai.

    Quem dera aparecessem mais filmes como esse hoje em dia.

    Abraço!

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    1. Oi, Jorge, também reparei nesses detalhes. Se não me engano teve uma manchete de jornal também dando uma mensagem subliminar sobre a história. Que bom que você lê meu blog!

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