Chile: beba sem moderação

Um vizinho na minha rua aluga a casa por temporada. Neste Carnaval, baixaram lá uns gringos. Chegaram fazendo a maior algazarra, como deve ser. Deu pra reparar que beberam sem parar nas primeiras 30 horas. O barulho que fizeram à noite só não foi pior que o do caminhão que troca a caçamba de entulho de uma obra próxima sempre por volta da uma da madrugada.

No terceiro dia de carnaval, conheci um dos estrangeiros. Me preparava para sair de bicicleta às seis da manhã quando ele apareceu com uma latinha de cerveja na mão. Era chileno como seus colegas de viagem, todos colegas de trabalho em seu país, numa empresa de construção. Conversa vai, conversa vem, perguntei se a turma usava maconha. A resposta do rapaz, de 23 anos, foi bem objetiva:

_ Nenhum de nós usa qualquer droga ilícita. Todos os meses, somos submetidos a teste de sangue na empresa. Por isso, só bebemos.

E como bebiam aqueles chilenos. Nos dez dias que se hospedaram na minha rua, acho que não fizeram outra coisa. Ah, também urinaram no canteiro do prédio ao lado.

Fiquei me perguntando sobre a validade desse tipo de teste, feito em muitas empresas também no Brasil. Compensa ter funcionários que não usam maconha, por exemplo, mas se encharcam de álcool em seus momentos de lazer?

Fiquei pensando nas diferenças entre o Chile, governado pela direita durante décadas, e o Uruguai, que, na era Mujica, descriminalizou o consumo de maconha e viu as prisões por tráfico e os índices de violência despencarem.

Estarão essas empresas chilenas, em nome de um moralismo barato, contribuindo para a formação de novas gerações de alcoólatras?

A indústria de bebidas agradece.


Foto: Marcelo Migliaccio





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