Só no Rio, onde mais?

Chego no balcão da Pizzaria Guanabara para comer uma daquelas fatias deliciosas na primeira garfada e horríveis na última. Para não reparar no ambiente imundo, fixo os olhos na TV. Nisso encosta do meu lado um daqueles garotões experientes de Ipanema. Já foi surfista, já foi magro, já foi bonito, já teve dinheiro.

Ele pede uma calabresa enquanto eu cuido de separar no canto do meu prato o pequeno camarão que adorna minha fatia de portuguesa. Nunca vi pizza com camarão... deve ser coisa de português.

Sinto que o rato de praia ao lado examina meu prato. De repente, a bomba H estoura no meu ouvido:

_ Aí, cara, não vai comer o camarão não?

Tento responder alguma coisa, mas nada sai.

_ Dá pra tu me arrumar esse camarão?

Me apresso em espetar o nobre crustáceo antes que ele tome a iniciativa, afinal quem cala consente. Coloco delicadamente no prato dele com um sorriso de Charles Chaplin no rosto.

_ Vai aê! _ tento parecer natural.

_ Pô, cara, me amarro em camarão...

_ É, né?


Foto: Marcelo Migliaccio




Comentários

  1. Cara de pau, intimidades, coisas do Rio. Fácil fazer um amigo assim, uma pessoa que encosta no balcão, come teu camarão, se vacilar te pede um chope na cara dura, um cigarro, carona no taxi e jura que tem uma festa maneira neste sábado. Afinal, vocês tem um amigo distante em comum.Vai ligar, te mandar uma mensagem. Pra semana eu procuro você, vai abrir, vai abrir...

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