O pombo de estátua

Depois do papagaio de pirata, eis que surge uma outra espécie na fauna brasileira, o pombo de estátua. O papagaio é conhecido há décadas por aparecer em eventos festivos, sempre quando a imprensa está a postos para fazer seus registros das celebridades. No momento em que todas as câmeras e flashes estão prestes a entrar em ação, a ave-verde-vaidosa pousa no ombro de alguma personalidade em busca do seu átimo de consagração.



Batizado assim por causa da propaganda de uma marca de rum, o papagaio de pirata também pousa em ombros de políticos quando eles estão a dar entrevistas... quando estão a explicar, por exemplo, por que usam o helicóptero do estado para levar a babá e as crianças para a casa de praia...

Mas o papagaio já não está só. Acaba de ser relatada pelos cientistas (das colunas) sociais a ocorrência de uma outra ave, esta funesta e agourenta, o pombo de estátua. É visto geralmente em velórios e sepultamentos que também atraiam jornalistas e fotógrafos. A maior concentração desses pombos já constatada foi no enterro de Tancredo Neves, uma revoada histórica em busca da notoriedade fúnebre.

Quando o corpo da minha tia Dirce foi enterrado no cemitério São João Batista, notei que veio uma turma ali da comunidade localizada ao lado só para ver astros de TV pessoalmente. Nenhum deles sequer lamentava o passamento da grande atriz. Eram na maioria mulheres e adolescentes de olho em quem chegava à capela do cemitério.

_ Olha ali o Tony Ramos!

Tudo bem, se não podem pagar para ir ao teatro, a única maneira de ver seus ídolos em carne e osso é num velório aberto ao público... mas poderiam pelo menos fingir que estão tristes. De quebra, alguns ainda conseguiram aparecer nos jornais e emissoras de TV no dia seguinte, aboletados atrás de alguém famoso.

O pombo de estátua, portanto, não é dissimulado. Escancara mesmo que está ali com segundas intenções, apesar de o momento ser trágico para os outros presentes. A seguir, um flagrante do pombo em seu poleiro preferido:


Foto: Marcelo Migliaccio

Comentários

  1. Simplesmente sensacional a definição.

    Cury

    P.S. Não deixe de ler o texto " Contra as tramoias da direita: sustentar a Dilma Roussef " de Boff no JB online.

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  2. Chega a ser engraçado.

    No enterro de meu amado pai (que era um médico de alguma notoriedade, além de bravo sindicalista) um político mais apressado (eram vésperas de eleição) quase caiu na cova, tamanho era o empenho em correr para aparecer.
    Meu pai deve ter descido dando gargalhadas!

    Abraços fraternos,

    Wanda

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  3. Mauro Pires de Amorim.

    Pombo é uma ave mais popular e sem escrúpulos, cerimônia, sujando tudo, entrando em lanchonetes, restaurantes, nas casas das pessoas. O papagaio já é mais seletivo, talvez por ser uma ave mais rara, mas mesmo assim, não se expõe para qualquer pessoa nem em qualquer situação.
    Valendo-me desse conceito de diferença entre ambas as aves e concordando com seu texto, podemos perceber a diferença entre o Pombo de Estátua e o Papagaio de Pirata. O primeiro é oriundo do povão, sem oportunidades, sem educação e sem noção. O segundo é mais educado em termos de oportunidades mas perde a linha sendo oportunista e acaba no fundo sendo também um sem educação e sem noção, só que mais sutil e seletivo em relação a quem ele vai tirar sua casquinha dos 15 segundos de fama.
    Felicidades e boas energias.

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  4. Definen os pombos como símbolo da paz, ou rato de asa.
    Para os políticos, é a mesmíssima coisa, temos os da paz, mas a maioria são ratos e ratazanas.

    Cury

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