Lula e FHC na mesma trincheira

Há exatos 24 anos eu acordei excitado. Na época _ bons tempos..._ eu sempre acordava excitado, mas naquele dia a coisa nada tinha de fisiológica. Era 5 de outubro de 1988, data da promulgação da nova Constituição brasileira. Botei um terno e fui para o Congresso, para ver e contar nas páginas do jornal em que eu trabalhava, a Tribuna da Imprensa, como o Brasil dava mais um passo à frente.

Durante os meses de Assembléia Nacional Constituinte, conheci muito deste país. Vi deputados e senadores de todos os tipos. Catedráticos, analfabetos, fascistas, comunistas, honestos, safados. Vi deputados de direita que passaram fome comendo com sofreguidão no luxuoso e subsidiado restaurante da Câmara. Vi herdeiros de fortunas milionárias lutando contra a injustiça social. Vi neo-nazista reclamando na tribuna que os presos de São Paulo estavam comendo bem demais. Vi um senador que andava sempre cercado de lindas assessoras engavetar crimonosamente o projeto que proibiria a pesca da baleia em seu estado, a Paraíba. Milhares delas foram mortas dentro daquela gaveta.

Vi também Lula, Fernando Henrique, Plínio de Arruda Sampaio, Cristóvão Buarque, José Genuíno, Fernando Gabeira e tantos outros na mesma trincheira, tentando vencer no voto a maioria conservadora, que queria barrar todos os avanços sociais. Não admitiam conceder nenhum novo direito trabalhista e comiam nas mãos dos muitos lobistas de grandes empresas brasileiras e multinacionais que circulavam por aqueles salões atapetados. Os 300 picaretas formavam o famigerado Centrão, que unia latifundiários e tubarões de todos os tipos, sem-vergonhas de todas as espécies.

Paralelamente às votações, a turma que vendia seu voto se locupletava com concessões de rádio e TV para dar mais um ano de mandato a José Serney, o presidente da inflação a 80% ao mês. E o STF na época não estava nem aí para nada. A imprensa também não fazia a campanha que faz hoje contra o governo. Mamata, só dos amigos e, se ainda não era um governo do PT, para que denunciar?

A festa de promulgação foi suntuosa. O povo, porém, não apareceu nas imediações do Congresso. Não fez festa e as grades de isolamento instaladas no gramado vazio não serviram para nada. Brasília viveu um dia como outro qualquer. O povo não é bobo...

Entre os poucos gatos pingados do lado de fora, estava o ex-deputado federal Múcio Athayde, o mesmo que deixou inacabada aquela torre na Barra da Tijuca. Ele levou sua claque particular e posou para a câmera de um único fotógrafo, que era justamente do jornal que Múcio tinha em Brasília, o Correio do Brasil.

Bobo fui eu, que botei um blazer claro num dia solene em que a maioria vestia preto. Pelo menos, me destacou na multidão que subia a rampa atrás de Ulysses Guimarães e Sarney, como mostra esta foto de Givaldo Barbosa.

Constituinte de 1988/Foto: Givaldo Barbosa

Comentários

  1. Naquela data eu não ligava (não entendia, na verdade) de política, razão pela qual não percebi a relevância da data.
    Em homenagem aos 24 anos da CF, postarei o texto no blogue do valentim (www.bloguedovalentim.com)

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  2. Foi uma data histórica importante, pois foi a promulgação da nossa constituição.
    E parabéns à você que participou, inclusive na foto oficial.
    Sergio.

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  3. FHC contra os conservadores e defendendo conquistas sociais...realmente faz muito tempo isso...

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  4. Até que o Marcelo saiu bem na foto !!

    Bezerra da silva já cantava:

    " Meu irmão se liga no que eu vou lhe dizer
    hoje ele pede seu voto, amanhã manda a polícia lhe bater ".

    Acho que era para Sérgio Cabral (rsrs)

    Cury

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  5. Ralei muito no JB, os filmes vinham de Brasília para serem revelados aqui no RJ. Um dia de muito trabalho mas inesquecível.

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