As férias feridas

Foto: Marcelo Migliaccio

Ontem eu saí do Rio e fui aos confins do Maranhão de táxi. É possível conhecer o Brasil inteiro apenas conversando com taxistas. No breve trajeto de 15 minutos, pela zona sul carioca, o motorista contou que voltara à sua terra natal depois de mais de duas décadas. A cidade, cujo nome a idade avançada já me fez esquecer, fica a menos de 300 quilômetros da já paupérrima capital do estado, São Luís.

Foi de chorar o relato que aquele motorista fez das condições em que reencontrou seus parentes. Na geladeira de um dos primos não havia absolutamente nada que ele pudesse dar aos dois filhos pequenos. E o taxista, que trabalha até 12 horas por dia no Rio para sobreviver, de repente, era o único capaz de ajudar aquelas pessoas que padeciam na aguda miséria do país mais desigual do mundo.

Ao conversar com outro de seus parentes, soube que ele era obrigado a tomar banho e colocar a mesma roupa, suja e suada, pois era a única que tinha. Tal era a situação de penúria da família que o taxista passou as férias todas ajudando onde podia. Para um, comprou mantimentos; para outro, deu o tênis; a um terceiro, parte das roupas que levara. Assim, o pouco dinheiro que juntou para se divertir em sua terra natal foi todo gasto para minorar o sofrimento de familiares.

A situação na região é caótica. A seca implacável acabou com os pastos e quem tem a sorte de possuir animais é obrigado a pagar o traslado deles para outras áreas onde ainda é possível que sobrevivam. Claro, gastando dinheiro também com o aluguel do pasto pago ao dono da terra.

Quando estive em São Luís, fazendo escala para conhecer a maravilha da natureza que são os Lençóis Maranhenses, fiquei chocado com a pobreza. Conversando com um morador, perguntei se José Sarney, filho daquela terra que presidiu o Brasil por cinco longos e angustiantes anos, nada havia feito por sua gente.

O homem me apontou uma ponte velha e disse:

_ Fez aquela ponte ali.

Com o passar dos dias, fui descobrindo outras coisas que os Sarney haviam feito em São Luís: uma casa que ocupa todo um quarteirão em frente à praia e a compra de vários outros bens nas mais diversas áreas. Aliás, não se olha para qualquer lado sem ver algo que pertence à família Sarney. A miséria, inclusive.


Leia também: Por dentro do Maranhão

Comentários

  1. Chocante! Estive no Maranhão há alguns anos, uma localidade chamada Arari. Era uma cidade distante da capital, mas havia ali um povo feliz e próspero. Lá havia, segundo dados oficiais, mais bicicletas que gente. Era mais de uma bike por morador. Motivo? Nem eles sabiam. O cinegrafista fez uma imagem impressionante do cruzamento de bicicletas na avenida principal, num fim de tarde de som, e parecia a China. Naquela época o estado abrira o mercado exportador e produzia melancia e frutos do mar para a Europa. A melancia tinha uma forma de caixa - fora assim adaptada para facilitar a exportação e colocação em containers. Isso era o primeiro governo Dino em pleno ciclo do PT. Não é difícil saber o que aconteceu de lá para cá.

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  2. Eu teria muita vergonha se fosse da família Sarney. 😔

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  3. Rabugento O Terrível

    A família Sarney e associados, inclusive em termos político-partidário não se expandiu para o Amapá? Se não me falha a memória essa expansão se deu desde final da década de 80 e início da de 90 do século passado. E também houve certa expansão para o Pará. Estados da Federação bem "pertinho" territorialmente falando do Maranhão.
    Mas enfim. E falando em COVID e essas criaturas microscópicas vivas, fungos & algas, bactérias e virus, versões microscopicas de animais e vegetais e que possuem RNA (sigla rm inglês) ou ARN (em português); versões mais simples geneticamente falando do DNA (sigla em inglês) ou ARN (em português), mas que, tal qual criaturas vivas com construção genética mais complexa e sequencia de componentes bio-químicos mais complexos, tais criaturas são analogicamente comparáveis até em termos de bio-função de suas partes e compostos orgânicos de atividades e existência, tal qual as criaturas vivas mais complexas e portanto, o RNA ou ARN e o DNA ou ADN são perfeitamente comparáveis e até terem elementos compositorios de bses bio-químicas funcionais e relacionaveis.
    Essas criaturas vivas microscopicas, têm também um ciclo de vida bem mais curto em termos referenciais e de medição humano, em séculos, décadas, anos, meses, semanas, dias, horas, minutos, segundos, frações de segundos; apenas exemplificando. Mas, assim como, vegetais e animais (isso incluindo nós humanos) que temos DNA ou ADN, tais criaturas microscópicas, animais e vegetais microscópicos, com RNA ou ARN também procuram perpetuar sua espécie, mesko que para isso, em sentido evolucionário positivo, acabem de alguma forma e meio se associando ou sendo associadas a outras criaturas de compatibilidade relacional em benefício mútuo. E já pensou que terrível seria para nós humanos ter um fungo/alga, bacteria, virus numa criatura só. Ou ainda, um vírus que se mutasse e se associasse com outro vírus criando uma criatura com características da dengue, chicungunha, febre-amarela, zica, malária e hepatite, corona e outros..... Que m....! Eu não quero causar aneurisma cerebral com temática bio-química e de inspiração em letra musical de rock dos Titãs, mas, o pulso ainda pulsa.......

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  4. Não satisfeito em destruir o Maranhão, quando fui para o Amapá ainda, território na década de 80, comecei a perceber uma enorme gentileza do presidente Sarney com o território. Pouco tempo depois vemos o mesmo Sarney sendo eleito senador pelo agora estado do Amapá. Alguém se surpreende em ver o sofrimento do amapaense que ficou quase um mês sem energia elétrica?

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  5. Eu teria vergonha de ser da família da maioria dos políticos brasileiros !!!

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  6. Eu teria muita vergonha se fosse da família da maioria dos nossos políticos.

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