Um pesadelo por dia

De uns tempos para cá, venho tendo pesadelos acordado. Fico imaginando o que deve acontecer daqui pra frente e lamento profundamente não poder despertar subitamente, aliviado, de um sonho mau. Um dos meus últimos dramas é imaginar que o Brasil entrou em guerra com a Venezuela.

Primeiro, foi o possível futuro ministro das relações exteriores, "dom" Orleans e Bragança, que declarou que adoraria invadir o país vizinho. Parece que, lá dos Estados Unidos, Donald Trump ouviu o descendente da família imperial brasileira e resolveu mandar pra cá mais de 50 tanques de guerra de última geração. É sabido que os americanos não tiram os olhos da reserva de petróleo venezuelana, que dizem ser maior que a da Arábia Saudita (o que posso contar é que um amigo meu de Roraima toda semana cruza a fronteira para encher o tanque do carro dele a R$ 15,00).  Pois bem, já se fala que Brasil e Colômbia atacariam com suas tropas e depois os americanos ficariam com o "ouro negro".

Todos sabem que governos autoritários adoram um inimigo externo que faça o povo esquecer dos desmandos internos. Um presidente-general argentino chegou a declarar guerra à Inglaterra, lembra?



O problema e o meu pesadelo começam quando leio que Rússia, China e Irã já armaram a Venezuela até os dentes. Já li que o poderio bélico de Nicolas Maduro é cinco vezes maior que o nosso. Não creio que nem o nosso militar mais entusiasta de Jair Bolsonaro queira entrar numa roubada dessas, ainda mais para garantir petróleo para os EUA.

Imaginei um míssil balístico intercontinental atingindo o Rio de Janeiro, já que percorrem mais de 5.500 quilômetros e Caracas fica a 4.500 daqui. Olha o estrago. Poderia transformar o Pão de Açúcar num cotoco, decepar o Cristo Redentor, ou destruir o Maracanã (não, desculpe, esse já foi destruído). Mas muito pior que tudo isso seria a morte de pessoas.

Os americanos foram no Iraque, no Afeganistão e na Líbia pessoalmente tomar o petróleo. Aqui bastou uma boa conversa para que o governo golpista de Michel Temer lhes entregasse o pré-sal, a maior reserva inexplorada do planeta. Como com Maduro não tem conversa, e por sermos tão gentis com eles, decidiram abusar um pouco e pedir que morramos numa guerra idiota para que não precisem sujar as mãos nem se desgastar com a comunidade internacional. Como nosso presidente eleito bateu continência para a bandeira deles, devem achar que por eles encaramos até ogiva nuclear. 

Não estou muito a fim, não...

Ultimamente, o Brasil se tornou o país do mundo com maior capacidade de transformar absurdos em realidade. Não pode duvidar de mais nada por aqui. A cada dia, vemos o inacreditável se materializar em forma de tragédia. Essa seria só mais uma. 

Talvez a última.