O dia em que o mundo pára
Nunca fui muito chegado a Natal. Quando criança, claro, gostava do presente mas logo percebi que nem todos ao meu redor tinham a mesma sorte. Vi que a data religiosa havia sido transformada em pretexto para o consumismo. Hoje, minha única satisfação nesta época do ano é poder pedalar pela cidade quase deserta na manhã do dia 25 de dezembro. Tudo fechado, ou quase tudo. As bocas-de-fumo e as drogarias não param nem no feriado mundial do nascimento de Jesus Cristo. Têm seu público cativo...
Nem a Igreja Universal escancarou suas portas nesta manhã. Com certeza, os fiéis abençoados pela fogueira santa da prosperidade ainda estão em suas casas, abrindo os presentes.
E, por falar em presente, esse aí parece que não gostou muito do que ganhou.
É tão cedo que nem o dia decidiu se será claro ou nublado.
Com as ruas vazias, sobrou apenas o lixo ocidental. Mas, os garis não apareceram ainda.
Invisíveis o ano todo, os sem teto hoje não têm quem os ignore ao passar.
É tanta desigualdade que tem Papai Noel a ponto de fazer uma besteira.
Ao lado do lendário letreiro do cinema Roxy, que está ali a inacreditáveis 70 natais, a performance de Fred Mercury não tem público.
Também está deserto o parque da minha infância. Só eu ali a correr em pensamento e memória.
Tom Jobim e a vendedora de sorvetes caminham sem porquê.
A maior celebridade da Avenida Atlântica, não precisa posar para fotos com turistas.
O silêncio convida a apreciar o inacabado Museu da Imagem e do Som. Secaram as verbas públicas e a obra privada parou. E, quando o museu da Quinta pegou fogo, disseram que o mercado é que sabe gerir...
O bom é que dá tempo de ver com calma os belos casarões antigos da Rua São Clemente, como este, em que morou Ruy Barbosa.
O silêncio da manhã de 25 de dezembro é ensurdecedor. É possível ouvir passarinhos na esquina que durante o ano todo é a mais barulhenta de Copacabana. Só um lugar está como em todos os outros dias do ano. E nos lembrando de que a vida é para ser vivida intensamente.
Muito bom os passeios que o Marcelo faz e compartilha conosco.
ResponderExcluirValeu, Cury, feliz Natal, amigo.
ExcluirÉ apesar de tudo você ainda consegue desejar feliz Natal...
ResponderExcluirNossa Sra de Copacabana veio da Bolívia cuidar de nós. Esperemos que traga pão & cia, já que infelizmente perdemos a Santa Fé, que tantos pés manteve aquecidos por mais de 70 anos. As grandes telas das tardes tiveram suas salas minimizadas, mas o Peter Pan continua mantendo a alegria das crianças, nem precisam de presentes. Ao nascer do sol, Tom e Drummond vivem seus momentos de calmaria. Já o MIS pede Help, assim como a casa de Ruy requer retoques. E, no fim da jornada, quem vela por todos é S.João Batista. Afinal, um muro sempre me separou daquele terreno lotado. Mas cheio de flores...
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