Aqueles dias
Ele encostou na banca de jornais muito mais para ouvir o que as três mulheres conversavam do que para ler as manchetes. As notícias eram sempre iguais _ assassinatos, roubalheira, gols, empulhação _ mas o papo das prostitutas da Rua Prado Junior nunca se repetia, pelo menos para aquele curioso sazonal.
Duas delas estavam sentadas num canto da calçada, a terceira, que nada falava, em pé, como as outras com uma garrafa verde de cerveja quente na mão. O curioso pôde reparar com o canto dos olhos que elas estavam cansadas depois de uma noite inteira de batalha, os pés sujos da sarjeta acumulada nos buracos do calçamento de Copacabana.
A conversa parecia interessar muito às três _ até mais do que a ele, que tinha dificuldade de ouvir alguns trechos.
_ ... Quando eu estou assim, nem venho. Pode ver que tem dia que eu nem venho _ disse uma das sentadas, a mais gordinha, cabelos duros pintados de amarelo, uns 35 anos, talvez menos.
A outra apenas assentia com a cabeça. A que estava em pé, uma nordestina de rosto enorme, só olhava em volta enquanto escutava. Isso inibiu o curioso, que disfarçava a vontade de examinar melhor aquele quadro instigante.
_ Ah, é horrível... _ concordou a outra sentada, cabelos pintados de um marrom avermelhado e sandálias de borracha nos pés.
_ Já pensou, você tá fodendo e o negócio desce? _ reforçou a loira.
Não. Será? Sim, era sobre aquilo mesmo que elas falavam.
Sempre de soslaio, o curioso reparou que a de sandálias de borracha disse alguma coisa bem baixinho à loira. O que será que ela falou? _ ele se perguntou enquanto olhava a foto do atacante do Flamengo comemorando um gol. A mulher ao lado elevou um pouco o tom de voz.
_ ... mas ele não ligou, falou que tudo bem... levantou, foi no banheiro, lavou o rosto... eu disse, poxa, não posso fazer nada, sou mulher, né?
A loira repetiu para a colega:
_ É por isso que quando tô assim eu nem venho, pode ver que tem dia que eu nem venho.
_ Mas ele não reclamou, não. Pagou... foi numa boa _ reforçou a outra, como que tentando convencer a si própria,
O curioso começou a se afastar. Já tinha ouvido tudo. As três continuaram onde estavam, bebendo suas cervejas quentes. Ele só pensava no homem que precisou interromper o sexo oral para lavar o rosto: ela disse que não, mas eu tenho certeza que aquele cliente ficou deprimido.
Duas delas estavam sentadas num canto da calçada, a terceira, que nada falava, em pé, como as outras com uma garrafa verde de cerveja quente na mão. O curioso pôde reparar com o canto dos olhos que elas estavam cansadas depois de uma noite inteira de batalha, os pés sujos da sarjeta acumulada nos buracos do calçamento de Copacabana.
A conversa parecia interessar muito às três _ até mais do que a ele, que tinha dificuldade de ouvir alguns trechos.
_ ... Quando eu estou assim, nem venho. Pode ver que tem dia que eu nem venho _ disse uma das sentadas, a mais gordinha, cabelos duros pintados de amarelo, uns 35 anos, talvez menos.
A outra apenas assentia com a cabeça. A que estava em pé, uma nordestina de rosto enorme, só olhava em volta enquanto escutava. Isso inibiu o curioso, que disfarçava a vontade de examinar melhor aquele quadro instigante.
_ Ah, é horrível... _ concordou a outra sentada, cabelos pintados de um marrom avermelhado e sandálias de borracha nos pés.
_ Já pensou, você tá fodendo e o negócio desce? _ reforçou a loira.
Não. Será? Sim, era sobre aquilo mesmo que elas falavam.
Sempre de soslaio, o curioso reparou que a de sandálias de borracha disse alguma coisa bem baixinho à loira. O que será que ela falou? _ ele se perguntou enquanto olhava a foto do atacante do Flamengo comemorando um gol. A mulher ao lado elevou um pouco o tom de voz.
_ ... mas ele não ligou, falou que tudo bem... levantou, foi no banheiro, lavou o rosto... eu disse, poxa, não posso fazer nada, sou mulher, né?
A loira repetiu para a colega:
_ É por isso que quando tô assim eu nem venho, pode ver que tem dia que eu nem venho.
_ Mas ele não reclamou, não. Pagou... foi numa boa _ reforçou a outra, como que tentando convencer a si própria,
O curioso começou a se afastar. Já tinha ouvido tudo. As três continuaram onde estavam, bebendo suas cervejas quentes. Ele só pensava no homem que precisou interromper o sexo oral para lavar o rosto: ela disse que não, mas eu tenho certeza que aquele cliente ficou deprimido.
Essa PJ é mesmo exótica, frequentei muito o Cervantes e lá via sempre o Fausto Fawcett, mas eu gostava mesmo de ver era o Zé das medalhas que trabalhava na farmácia do Leme.
ResponderExcluirFim do Barbarella. Mais desempregadas(os) neste país. Menos um atrativo para turistas, principalmente. Tinha curiosidade em saber como eram os "shows", mas o excesso de rigor no comportamento impingido pelos pais, além da falta de acompanhante, me fizeram passar milhares de vezes pela Princesa Isabel, e ficar na imaginação.
ResponderExcluirNão entendi... Espaço TV era um blog que eu tinha. Ass: Simone Magalhães
ResponderExcluirO texto acima é meu: Simone Magalhães. Espaço TV era um blog que eu tinha.
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