Caatinga Atlântica
Paisagem semelhante, eu só tinha visto no agreste pernambucano, a caminho de Caruaru. Vegetação seca, em vez de verde, a cor predominante é o marrom.
Folhas queimadas impiedosamente pelo sol, que parece ter tido um ataque egocêntrico e dado um cartão vermelho para a chuva, tornando-se a estrela solitária desse triste espetáculo. Se o sol nunca rimou com tristeza, bastou tirar a chuva de cena para que, sem o antagonista tão fundamental, o astro-rei se transformasse no vilão da história.
Não, não estamos mesmo no Nordeste, mas numa das poucas reservas de Mata Atlântica que resistem no Rio de Janeiro. Estamos no costão do Pão de Açúcar, onde os cinquenta tons de verde têm agora a companhia do marrom.
Se qualquer vestígio de água dá a esperança aos nossos cientistas de que pode ter havido vida em marte, a ausência dela aqui na Terra nos traz o fantasma da própria extinção.
A seca que tantos transtornos já causa aos paulistas chegou ao Estado do Rio. Era um problema do vizinho, agora é nosso também. Nossos políticos, que se apressaram em negar água aos irmãos, agora experimentam os primeiros efeitos da falta do precioso líquido. E logo São Paulo, onde tantos hostilizam os nordestinos, foi o primeiro estado no sul maravilha a provar o gosto amargo do flagelo da seca que tanto fez sofrer os discriminados patrícios lá de cima.
Enquanto muitas plantas morrem, a jaca ainda prolifera num cenário assustador. Mas quem come jaca?
Será que vai chover? Chover, vai, só não sei quando. E, quando chover, sai de baixo. Sempre ouvimos que o clima no planeta está mudando, só que eu acho que já mudou, e de uma hora para a outra. O último relatório climático avisou que em 100 anos dois terços da população mundial não terão água potável. Será que foram otimistas quanto ao prazo? Foi o que nossos brilhantes executivos conseguiram além de gerarem dinheiro que não acaba mais. Todo esse dinheiro vai nos salvar? Seus carrões blindados vão livrá-los da desertificação? Quem polui mais? A China, os Estados Unidos, ou o emergente Brasil? Quem está em primeiro no ranking da destruição da camada de ozônio?
Pobre sol, tornado vilão de um roteiro funesto, escrito há décadas pelos donos de um sistema produtivo que faz propagandas tão hipócritas quanto caras na televisão
"Isso muda o mundo"…
Mudou mesmo.
Em outros cantos da cidade, o quadro é semelhante.
Isso é grama que se apresente?
Caro Marcelo. Você que conhece bem o Rio deve ter observado a ocorrência de alguns cactos aí mesmo no Pão de Acucar? São populações relictuais que demonstram que onde hoje é mata atlântica outrora já tenha sido uma área mais seca em função das transgressões e regressoes do mar. Quero dizer com isso que o planeta sofre ciclicamente estas mudanças climáticas e que não há, a princípio motivos para nos preocuparmos com a nossa espécie. Aqui no nordeste a coisa costuma ser bem pior é o povo vem enfrentando seca há muito tempo. A questão é que aqui todos sabem que não se combate a seca e sim os efeitos da mesma, coisas com o qual o sul e parte do sudeste maravilha ainda não se deu conta.
ResponderExcluirÉ bom ler isso, mas você já viu seca semelhante em São Paulo? Será que ela é cíclica?
ExcluirEm São Paulo eu não sei exatamente, mas vi algum especialista falando na TV que é a pior seca dos últimos 50 anos. Nesse caso já houve outras, mas não sei dizer com certeza.
ResponderExcluirAqui o mar (Guarapiranga,Billings,Cantareira) tá virando sertão Marcelo,que Zeus nos ajude que a coisa tá feia mesmo!!
ResponderExcluirJ.Leão
Fala, Marcelão! Essas imagens me fizeram lembrar do Luiz Gonzaga. "Quando o verde dos teus olhos se espalhar na plantação..." Eita, Gonzagão!!!
ResponderExcluirBoa lembrança… esse faz falta.
Excluir"O sertão vai virar mar, o mar vai virar sertão". Premonição em "Deus é o diabo na terra do sol"??? (Seu texto como sempre impecável!!!). Yves
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