A janela do museu

Pode a melhor atração de um museu ser a vista pela janela? Depende, claro. Do museu e da janela. No caso do MAC (Museu de Arte Contemporânea de Niterói) é isso que acontece. Pelo menos no caso da exposição que eu visitei recentemente lá.

Primeiro é preciso definir arte abstrata: em geral, é aquilo que se seu filho de quatro anos fizer numa folha de papel e vier lhe mostrar você diz que está ótimo só pra incentivar o moleque.

Nessa exposição do acervo de João Sattamini que visitei, por exemplo, um gênio arrancou quatro folhas de um bloco de notas, colocou numa moldura e deve ter tido a cumplicidade de um crítico que afirmou ser aquela belezinha uma desconstrução do subconsciente urbano.

Sem falar naqueles que simplesmente jogam a tinta óleo numa tela aleatoriamente para passar a mensagem de que "a filosofia é a matéria incandescente do dever moral"...

Tem coisa mais enrolativa e prolixa do que um folheto sobre exposição de artes plásticas? É ridículo tentar descrever um Monet, um Dali, um Van Gogh. São obras para ver, não para ler.

Bom, diante daquela instalação que juntou poltronas estampadas com os mais variados tecidos onde não se podia nem sentar, restou-me, de pé mesmo, apreciar a paisagem lá fora, elaborada por um artista inigualável, a mãe natureza.


Foto: Marcelo Migliaccio


Ah, a arquitetura de Oscar Niemeyer é uma atração à parte. Quem acha que disco voador não existe? Existe, só que não voa.


Foto: Marcelo Migliaccio


Pra não dizer que é tudo perfeito, tem aquele problema indefectivel do nosso arquiteto centenário, a falta de sombras. Não sei o que o velho comunista tem contra as árvores pois elas sempre faltam na ornamentação das suas obras. Pode reparar que, se foi o Niemeyer que fez, fica todo mundo torrando no sol. Seja no Memorial JK, nos palácios de Brasília, na Praça dos Três Poderes, no Monumento aos Pracinhas, haja boné pra visitar tantas maravilhas. Até que daria pra ficar na sombra da construção futurista de Niquiti...


Foto: Marcelo Migliaccio


... Mas o mago das pranchetas tascou um lago ali.




Agora, falando sério, vale muito a pena conhecer o MAC de Niterói.


Foto: Marcelo Migliaccio



Nem que seja para apreciar a vista da terra e o mar que um dia foram de Araribóia e seus irmãos.


Foto: Marcelo Migliaccio


E, quem sabe, namorar com o Rio de Janeiro ao fundo.


Foto: Marcelo Migliaccio

Comentários

  1. Trabalhei 7 anos em Niterói, e gostei muito de conhecer bem a Cidade Sorriso e muita gente boa que vive lá.
    Nesse tempo, visitei algumas vezes o MAC e achei lindo.

    Hoje em dia até brinco com os nativos de lá que se a travessia da Ponte fosse ao contrário, ninguém participaria, mas como é em direção ao Rio, centenas participam.

    Cury

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  2. Quando morei em Niterói visitei muitas vezes o MAC,mesmo contando-se nos dedos de uma só mão as exposições que valessem a pena lá,e ainda sobrando dedo.
    Vendo essas exposições de arte moderna fica-se com a impressão de que tudo o que valia a pena ser feito já se fez,ou que agora falta imaginação para se criar algo de bom. Certa vez fui a uma exposição no MAM,e por instantes fiquei me perguntando se aquele círculo de pó de giz no chão com um vaso no meio rodeado por alguns bastões de giz fazia parte da exposição ou algum despacho sem encruzilhada. E o pior é que sempre surgem alguns entendidos dando alguma interpretação filosófica para a tal obra. Sua observação me fez lembrar de um comentário do Ringo Starr dizendo que crianças jogam tinta num papel e dizem que é um quadro,e quando é o nosso filho,emolduramos e penduramos...
    Sendo assim,na maioria das vezes,o melhor é admirar a arquitetura do Niemeyer e usar o espaço como namoródromo,além da vista espetacular,incluindo aquela faixa de areia na praia da Boa Viagem,quando a maré está baixa. Só não vale dizer a velha piada carioca de que a melhor vista de Niterói é o Rio...

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  3. Considero imperdível a visita ao MAC, como você tão bem sugere, através destas fotos inquestionavelmente lindas.

    "Não sei o que o velho comunista tem contra as árvores pois elas sempre faltam nas ornamentação das suas obras" suponho tratar-se de uma questão inconsciente de vaidade excessiva. Não dá pra competir com o Criador, né? Como as árvors são deslumbrantes esculturas naturais, ele, talvez, prefira não correr o risco de comparações entre o ARTISTA INIGUALÁVEL e ele.

    Soube_ e foi gente séria e prestigiada no mundo das artes quem falou_ que os artistas, além de carentes, são vaidosíssimos. Sugiro, então, que você corrija o nome dele: JOÃO SATTAMINI.

    É mais do que comprovado que há muitas enganações ou fraudes "artísticas" mas que, em hipótese alguma, ficarão para a posteridade, como exemplo de arte, "talequale" um divino David do Michelângelo, dentre milhares de outras obras-primas, p.ex.
    Abraço
    Marcos Lúcio

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    1. Valeu, Marcos, corrigido, mas no ingresso está com um "t"só. Abraço.

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    2. Pois, para variar, há erros em quase tudo (na minha vida, então kkkk)e nem os museus e centros culturais brasileiros... acredito até, que nem o Ministério da Cultura, cuidam deste pormenor da maior importância para estes locais: fazer e escrever certo.

      O nome do artista, no ingresso, está incorreto: é SATTAMINI, OK?...bem... ainda não vi a certidão de nascimento dele rsrs...mas acredito que seja assim(ou só é o nome artístico?!).

      O acervo do MAC é composto por obras relacionadas com a arte contemporânea do século XX. Com um conjunto de mais de 1.000 obras, reúne a coleção de João Sattamini e é a segunda maior coleção de arte contemporânea do Brasil.

      Abraço
      Marcos Lúcio

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  4. Estive no MAC mês passado, e também nao achei grande coisa. Mas, em relação às "quatro folhas de um bloco de notas numa moldura", repare bem e verá que a obra não é apenas "quatro folhas de um bloco de notas numa moldura". A princípio também achei que fosse.

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    1. Devo ter olhado muito rápido porque não vi nada além disso...

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  5. Eu já fui e só fiquei tirando fotos da paisagem, nem entrei no museu. Vista espetacular!

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  6. Eu não aprecio a obra do Niemeyer: todas as que conheci são pesadonas, escuras por dentro, por causa das janelinhas pequenas; e até claustrofóbicas e desconfortáveis pra gente se locomover. Sim, falta árvore, falta luz solar e sobra concreto. Embora ele seja considerado gênio em grande parte do mundo, realmente não gosto. Nem mesmo de Brasília sou fã: a cidade não foi feita para o pedestre... (onde já se viu isso?!), e é todinha igual, verdadeiro tédio para os olhos.

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  7. Aqui em Curitiba tem o MON-Museu Oscar Niemeyer, mais conhecido como Museu do Olho, em função de seu formato. Apesar de ficar bem perto do meu trabalho nunca conheci por dentro; agora, por fora ele é muito legal. Você vê mais gente tirando foto da parte externa e indo embora do que pagando para entrar e visitar...hehehe!

    Pra quem quiser dar uma olhada: http://www.museuoscarniemeyer.org.br/

    *Legal a foto dos jacarés (ou crocodilos, nunca sei...hehehe)

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  8. Marcelo, note (se ainda nao o fez) que visto de um angulo apropriado,
    mais proximo da rampa de entrada, percebe-se que a inclinacao
    acompanha a do pao de acucar ao fundo.
    nao acho q foi coincidencia.
    é lindo.
    e genio é assim mesmo, nao ha unanimidade...(permita-nos o Nelson Rodrigues, né?)

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